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CONVERSAS COM SOCIÓLOGOS BRASILEIROS ... - GV Pesquisa

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mundo não está expresso nele. Talvez o estado possível e desejável do mundo. Quem<br />

conseguiu fazer isto, de forma absolutamente desprovida de qualquer preocupação éticonormativa<br />

foi Luhman. Este é um interlocutor possível e que tem de ser levado em conta pela<br />

forma crua como coloca o que é o mundo. Com sua enorme sofisticação intelectual, ele analisa<br />

um mundo em que predomina a lógica dos sistemas, do traçado claro de fronteiras, totalmente<br />

condicionadas pelas exigências internas de cada sistema em questão. Ele montou todo um<br />

esquema que deixaria assustado o próprio Durkheim que se preocupava em traçar fronteiras.<br />

Um sistema subsiste enquanto mantém suas fronteiras. Ele depende da inteira subordinação das<br />

relações externas à dinâmica interna dos sistemas. Então, Luhman revelou uma percepção do<br />

estado de mundo extraordinária. Por isso ele é um interlocutor que dialoga criticamente com<br />

aqueles que são mais provavelmente nossos heróis. Portanto, pretendendo-se buscar um autor<br />

que contemporaneamente dialogue com o mundo, de uma maneira que é fiel ao estado do<br />

mundo, como uma espécie de frieza analítica, este interlocutor é o Luhman. Assim, de um<br />

modo geral a Elide tem toda razão, nossa tarefa passa por aí. Por que eu vou dedicar tempo e<br />

estudo a um autor? Porque de alguma maneira ele dialoga com as minhas referências e dialoga<br />

com o mundo de um modo que me parece significativo. Ou seja, há a preocupação com a<br />

relevância, para não se cair rapidamente em modismos.<br />

A partir de seus comentários sobre Luhman, pode-se concluir que o autor importante é<br />

aquele que permite compreender os contornos da barbárie? Assim, a referência não é o<br />

mundo que queremos, mas, o mundo como é.<br />

Eu diria que este é um critério importante. Giddens é um autor muito interessante, mas,<br />

confesso que nunca pensaria nele como uma referência fantástica.<br />

Na área de sociologia, a grande produção é européia?<br />

A Europa é muito estranha. Tome-se a Hungria,por exemplo, é impressionante o que eles<br />

produziram em todas as áreas, inclusive nas artes, nas ciências duras. Houve um momento da<br />

diáspora européia, nos anos 20, 30, 40 até a Segunda Guerra que é impressionante. Intelectuais<br />

de vários países se espalharam. Mannheim foi para a Inglaterra. Tenho enorme dificuldade em<br />

visualizar este intenso processo de estímulo mútuo, de fecundação das idéias, em um ambiente<br />

saturado por tradições intelectuais e culturais muitos fortes, com instituições universitárias<br />

fortes, onde circulam pessoas do mais alto nível, de uma densidade excepcional. Nós não<br />

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