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CONVERSAS COM SOCIÓLOGOS BRASILEIROS ... - GV Pesquisa

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Você reflete sobre comunicação nos anos 70, que tem referência importante em relação à<br />

censura. Assim, trazer Adorno para pensar isto, é pensar a ditadura, não é?<br />

É que nós tivemos momentos complicados. Eu não gostaria de trazer a imagem de que dentro<br />

da Universidade tudo tivesse sido um pesadelo. Na verdade, não foi. Externamente, claro que<br />

não era fácil. Mas, nós tivemos um momento em que a atividade intelectual foi submetida a<br />

injunções brutais, que no mais das vezes não vinham de fora. No caso da USP, pelo menos, não<br />

vinham de fora. Vinham de dentro, da direita que impunha aposentadoria, ou da esquerda que<br />

cobrava de maneira atroz, e queria, a qualquer momento, um resultado palpável. Havia ainda<br />

aqueles estudantes que se refugiavam nas “viagens”, que ficavam totalmente fora da realidade.<br />

Eram injunções muito pesadas para quem, como é meu caso, começou nos anos 60, com suas<br />

promessas. Não adiante dizer que é saudosismo, porque, realmente, era uma grande promessa.<br />

Acreditava-se na criação de uma reflexão acadêmica voltada para as grandes questões<br />

substantivas e para os fundamentos teóricos, com um nível de verdade e de sofisticação<br />

altíssimo. Não dá para negar que uma parte disto foi cortada nos anos 70. Um ponto<br />

complicado e mesmo pernicioso foi o modo pelo qual, nos anos 70, a Universidade foi forçada<br />

a internalizar o Marxismo. Todo mundo tornou-se forçadamente marxista, sujeitando-se a<br />

contínuas cobranças internas e à repressão externa, à censura. Era uma panela de pressão, e a<br />

Sociologia pagou por isto, mas, não perdeu o vigor.Os trabalhos continuaram a ser feitos com<br />

ou sem angústias internas. Uma pessoa como eu que tem certa inclinação para a reflexão mais<br />

teórica pode continuar trabalhando porque teve não só estímulo, mas também suporte<br />

institucional. A instituição se manteve basicamente arejada.<br />

Você quer dizer que a dominância do marxismo nos anos 70 por esta instituição ocorreu<br />

como uma resposta a esta pressão?<br />

Foi uma internalização forçada, porque o debate externo estava todo fechado e tivemos de<br />

jogar tudo para dentro Não tínhamos de suportar tanta coisa. Tínhamos de dar conta do que<br />

seria convencional na Sociologia, nas Ciências Sociais, além de responder às exigências de um<br />

marxismo fortemente engajado no momento presente. Tentamos fazer isso sem perder a<br />

qualidade do trabalho em nenhum dos dois lados. Por exemplo, Luiz Pereira envolveu-se em<br />

luta forte, até certo modo, heróica, em defesa de uma Sociologia crítica de forte inclinação<br />

marxista. Ele podia, tinha densidade intelectual excepcional, e queria manter isto na<br />

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