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CONVERSAS COM SOCIÓLOGOS BRASILEIROS ... - GV Pesquisa

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deles.O que temos agora é a total hegemonia das técnicas, das grandes escolas, que por sinal<br />

nem sempre são hegemônicas. Em alguns momentos são simplesmente indiferentes. Não<br />

querem nem saber do resto. Alguma hegemonia pode-se ver na Politécnica que, aliás, de longe<br />

é a mais simpática das escolas profissionais que nós temos.<br />

Como os grandes mestres da Faculdade de filosofia viram este processo?<br />

Não sei se eles concordariam. Eles tinham uma idéia muito clara do que era prioritário e que a<br />

tarefa fundamental seria a composição de um grupo capaz de criar um estilo de trabalho<br />

acadêmico consentâneo com nossas exigências. Um grupo com real densidade da reflexão<br />

crítica, sem desprezo pela empiria, pela pesquisa. Ao contrário, eles a valorizavam<br />

gigantescamente. Viam que o modelo de universidade que incorporava escolas técnicas ia<br />

avançando em escala nacional, e isso era uma ameaça. Uma espécie de pasteurização do<br />

conhecimento. Então, a reação do Florestan a minha possível ida para a FLACSO exprimia a<br />

rejeição desse modelo. Mais do que isso,exprimia a afirmação de que ele queria outro perfil.<br />

Na época eu fiz opção por aqui, mas, eu não entendi muito bem. No fundo entendia, porque<br />

sabia o que estava em jogo, mas, isto levou a certas polarizações que foram ruins. Eu considero<br />

trágica a sua luta perdedora do Luiz Pereira. A figura trágica que ele foi, porque lutou por um<br />

modelo válido, mas perdedor, contribuiu para o fato de ter sido eliminado da memória<br />

intelectual deste país. A propósito, seria muito importante que a ANPOCS fizesse a devida<br />

homenagem a esse grande intelectual brasileiro, no próximo ano, quando vai fazer vinte anos<br />

que ele morreu. A intuição de que era necessário lutara pela permanência de modelo alternativo<br />

de universidade é mérito de uma figura como o Luiz. Acontece que ele era fantasticamente<br />

bom para fazer o diagnóstico. E era fantasticamente ruim para agir, porque não era<br />

organizador, não era aglutinador. Ele era capaz de fazer o diagnóstico da conjuntura, mas, era<br />

absolutamente incapaz de dizer, então próximo passo a ser dado. Quando vieram as<br />

aposentadorias, ele assumiu a Sociologia. Ele ficou no meio de um fogo cruzado de todo tipo,<br />

desgastando-se de uma maneira atroz. Seu talento não era a política, mas sim a grande<br />

reflexão.Ele não sabia convencer. Foi trágico. Não teve sorte. Felizmente, Ianni teve um<br />

destino brilhante, foi reconhecido, após décadas, fazendo trabalhos que não eram dele, em<br />

ambientes que não eram amenos. No final, pelo menos, ele sentiu que estava feliz de ser<br />

reconhecido.<br />

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