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CONVERSAS COM SOCIÓLOGOS BRASILEIROS ... - GV Pesquisa

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De modo geral, eles tiveram um papel formador muito importante.<br />

São como formiguinhas, operários do conhecimento, do saber, da cultura, e que tinham paixão<br />

pela atividade intelectual, mesmo não sendo iluminados. Aliás, é bom que não existam tais<br />

gênios, porque são insuportáveis. Se inteligência resolvesse, estaríamos todos muito bem. Se a<br />

inteligência resolvesse, a ditadura militar teria resolvido, porque o Delfim era um páreo duro.<br />

Há um episódio com o Goldemberg, o ex-reitor a USP, interessante. Quando perguntaram a<br />

ele, como físico, se a comunidade científica não pode impedir a produção de armas<br />

sofisticadas, ele deu uma resposta de devastador bom senso: Se 98 dos 100 pessoas que<br />

conhecem bem essa área do conhecimento se recusam a participar do desenvolvimento de<br />

armas mas dois aceitam, isso faz diferença Basta uma pessoa trabalhar na bomba de<br />

hidrogênio, como ocorreu nos Estados Unidos, já faz a diferença. Não adiante 98% da<br />

comunidade dos físicos se recusarem. Aliás, o cientista que inspirou a famosa carta do Einstein<br />

a Roosevelt, dizendo que os alemães estavam avançando na pesquisa, foi quem gerou o<br />

programa atômico nos Estados Unidos. Na época fazia sentido, o Einstein era um pacifista e<br />

estava convencido de que os alemães poderiam produzir realmente uma bomba que seria um<br />

estágio para a bomba atômica e, assim, teriam uma vantagem enorme na guerra.<br />

Essa questão do poder do intelectual é muito desafiante. Steven Lukes, que obviamente<br />

pensava no papel de Giddens nesse processo, me disse que foi para os Estados Unidos<br />

porque queria entender o que seria a terceira via. Essa definição, na visão dele, deveria ser<br />

decisiva, inclusive em relação ao Oriente. Ele me disse isto em 1997.<br />

Esta é uma figura muito interessante, mas pouco lembrado, mas,<br />

Ele conhece bastante a teoria sociológica, e pensa a questão do poder dentro deste quadro.<br />

Isto reforça o que estávamos conversando. Quais são as condições para o surgimento de<br />

intelectuais interessantes? De onde vêem? Bauman, por exemplo, é um polonês que está<br />

pensando o mundo de maneira significativa, depois da experiência traumática de seu país, A<br />

questão relevante é: por que a exigência da eminência individual é anômala. Por exemplo, o<br />

Durkheim era um sujeito que se puxava pelos próprios cadarços, como dizem os americanos.<br />

Ele tinha de ir além dos seus limites a cada momento, porque achava que tinha uma missão.<br />

Criar uma ciência que não era simplesmente uma referência, mas que tinha um compromisso<br />

com uma França republicana. Os grandes mestres sempre tiveram questões substantivas. Em<br />

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