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CONVERSAS COM SOCIÓLOGOS BRASILEIROS ... - GV Pesquisa

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frase de um de seus últimos livros é a seguinte: estou convencido que as Ciências estão<br />

ameaçadas. A pergunta é: por quem? Não propriamente pela política, como havia ocorrido<br />

anteriormente, mas pelas forças mercadológicas que passam a governar a esfera cultural.<br />

Seu livro sobre a televisão não é uma crítica à cultura de massa, ele não opera com este<br />

conceito. O que lhe interessa é como o mundo da mídia torna-se um novo centro de poder,<br />

uma instituição com autoridade e legitimidade, capaz de submeter inclusive os intelectuais.<br />

Por isso a defesa das Ciências Sociais torna-se uma necessidade política. Antes havia uma<br />

separação entre o intelectual e a política, o engajamento era uma forma de encurtar esta<br />

distância. Agora, com a indústria cultural e os produtos globalizados, o próprio campo de<br />

saber é atingido, sujeitando-o à lógica mercantil, que lhe é externa. O debate sobre a<br />

televisão pode ser visto como uma metáfora, ele nos remete às transformações da política<br />

moderna, que já não se ajusta aos partidos e às ideologias, e têm suas fronteiras ampliadas<br />

para a esfera do mercado.<br />

Esta seria a condição do intelectual no mundo atual?<br />

Quando Sartre falava da alienação do colonizado, havia um pressuposto em suas análises.<br />

Nelas, ele se encontrava separado da realidade alienada. A alienação era estrangeira, por<br />

isso ele podia “falar sobre o outro”. Este encontrava-se distante, na periferia. Uma das<br />

características do processo de globalização é a transformação da noção e espaço e a<br />

redefinição das fronteiras. Passa-se da idéia de “outro” para um “nós”. Nela, todos estamos<br />

envolvidos, claro de forma diferenciada, e desigual. Veja a questão da identidade. Ela não é<br />

nova, trata-se de um tema tradicional na América Latina. É uma obssessão de nossos<br />

intelectuais. Hoje ela tornou-se um tema mundial. Ironicamente, o dilema se expandiu.<br />

Bourdieu reage à esta nova condição da modernidade-mundo, na qual as forças de mercado<br />

tornaram-se hegemônicas. A disputa não pode ser portanto, apenas moral.<br />

Que diferença tinham, em relação a isso, os intelectuais do século 19.<br />

Falemos da América Latina e do Brasil. Os intelectuais do século XIX não eram menores<br />

ou maiores do que os do século XX, no entanto eles tinham uma desvantagem em relação<br />

aos europeus. Não uma desvantagem mental, mas histórica, pois as Ciências Sociais<br />

surgem como a leitura crítica da modernidade, e esta modernidade era rarefeita na América<br />

Latina. Pelo menos, ambígua, incompleta. Apesar do talendo individual de cada um desses<br />

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