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CONVERSAS COM SOCIÓLOGOS BRASILEIROS ... - GV Pesquisa

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Hoje, estando na F<strong>GV</strong> pensei: a escola é espaço público. E eles têm noção de que de que<br />

o mundo é extensão do espaço privado, de que a escola é a casa deles. Por isso não têm<br />

nenhuma contenção!<br />

E a Universidade não está sabendo lidar com isto. Eu não sei. Não aceito um<br />

comportamento destes. De repente, temos de fazer uma coisa que nos desagrada: punir.<br />

Outra coisa que tenho notado e que tem me incomodado muito, é que eles não têm modos,<br />

esta postura civilizada de tratar o colega, a adequação da linguagem. Falam coisas chulas.<br />

O Universo cultural é pequeno, o vocabulário, o universo da expressão é muito reduzido! E<br />

aí o Bourdieu tem razão. É a televisão e o computador. Eles não lêem! Há uns anos atrás eu<br />

tinha uma sala excelente, de segundo ano, em que dava Teoria Sociológica Clássica, e<br />

porque dava Marx, comecei em 1848, e lembrei da Educação Sentimental, de Flaubert,<br />

então, comecei a comentar. Finalmente, perguntei, quem leu Madame Bovary? Ninguém.<br />

Como uma moça não leu Madame Bovary, comentei, é o arquétipo da mulher; está na base<br />

da construção do feminino. Ninguém tinha lido. Nós enquanto professores e a<br />

Universidade não estamos sabendo responder a esta nova situação. O sistema de ensino não<br />

sabe. Estamos sendo desvalorizados pela sociedade, pela media. Canso de ler na Folha de<br />

São Paulo a afirmação de que somos nós, os professores, os privilegiados. De ouvir do<br />

governo em quem votei, que os professores têm privilégios, que têm de se aposentar mais<br />

tarde. E porque um professor ganha mais e os outros ganham menos! A verdade é que se<br />

ele fosse para a iniciativa privada iria ganhar muito mais com sua qualificação. A sociedade<br />

tem de amparar esta área que não pode ser tratada na vala comum. Todo ano, temos que<br />

fazer não sei quantos relatórios, temos de provar que fizemos isto, aquilo.Temos um<br />

sistema de avaliação permanente.Estamos permanentemente tendo de nos qualificarmos. O<br />

drama desta profissão, como diz o Riobaldo, é que nunca estamos terminados. O problema<br />

é que não temos a rotina de trabalho fixada em horas. A rigor trabalhamos todo o tempo,<br />

até quando temos lazer. O trabalho nos ocupa até no sono. Não se escreve um livro se não<br />

estivermos sonhando com ele todo o tempo, com ele na sua cabeça. É um trabalho<br />

artesanal. Eu cansei de ouvir, por que nós temos este privilégio da aposentadoria integral.<br />

Não temos fundo de garantia. E para que o sistema universitário não seja destruído, é<br />

preciso que não se rompam direitos fixados. Não existe sociedade democrática que rompa<br />

direitos!<br />

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