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CONVERSAS COM SOCIÓLOGOS BRASILEIROS ... - GV Pesquisa

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muito esquecida. A ignomínia jogada sobre eles por causa da aposentadoria, talvez, tenha até<br />

contaminado a nós todos. Com isso, às vezes, esquecemos que havia um nível extraordinário<br />

de lealdade, de fair-play, de respeito ao interlocutor. Cito por exemplo que me trabalho termina<br />

com algumas referências críticas à obra de Hélio Jaguaribe. Diante delas, Florestan me<br />

advertiu: isto você não pode fazer, porque, no fundo, você o toma como boneco de palha para<br />

socar, introduzindo-o pela porta dos fundos. Isso não é muito leal. Era uma cobrança de<br />

integridade intelectual. “Não se pode abordar um autor assim”, dizia Florestan, ele nem está ai<br />

para se defender. Aliás, a integridade intelectual destes nossos mestres é inacreditável. O Ianni<br />

se recusava a citar sua obra em sala porque dizia que era uma relação assimétrica.<br />

Mas, voltando à sua pergunta, lembro-me que Fernando Henrique Cardoso e Bolívar<br />

Lamounier, ao fazerem uma revisão da literatura sobre estudos políticos no Brasil, publicada<br />

na Revista Dados, fazem referência a Petróleo e Nacionalismo, dizendo ser dos primeiros<br />

estudos no Brasil a analisar processos de tomada de decisão. Eu não sabia que estava fazendo<br />

isto. Foi muito interessante para mim, pois confirma a compatibilidade com Weber, ou seja, a<br />

ênfase na orientação à conduta coletiva.<br />

Retomemos os três grandes temas da sua obra: a análise sobre a criação da Petrobrás, as<br />

discussões sobre a Sociologia da Comunicação e a reflexão sobre Weber. Todos eles estão<br />

inseridos em um momento importante do país. Assim, poder-se-ia dizer que para você a<br />

Sociologia seria pensada em função de sua inserção no mundo. Isso tem a ver com a<br />

epígrafe do livro, citando Weber: . “Faço Ciência para saber o quanto posso suportar...”<br />

O trabalho teórico sobre Weber me deu muita angústia, muito remorso. Estávamos nos anos 70<br />

e a cobrança era de intervenção direta. Não o tempo todo, mas havia a cobrança. Senti-me um<br />

“monstro” fazendo reflexão sobre fundamentos. Era um período fantástico, e mesmo muito<br />

doido. Fui protagonista de algo que ficou na minha memória. Um aluna de um curso de Teoria<br />

Sociológica, em que eu falava sobre Goffmann me interrompeu e disse: “O que as idéias deste<br />

José Márcio tem a ver com o momento que vivemos aqui, de combate etc. Eu fiquei tão<br />

chocado, que nunca mais consegui esquecer esta cobrança que, se pensarmos bem,<br />

completamente alucinada. aquele estudante se inscreve na cadeira optativa de Teoria, e depois<br />

cobra referência sobre qual é o trajeto que se deve fazer nas ruas no momento da passeata.<br />

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