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CONVERSAS COM SOCIÓLOGOS BRASILEIROS ... - GV Pesquisa

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desenvolver, mesmo em outros textos este lado, mas acho que é uma perspectiva muito<br />

legítima, e que daria uma bela discussão. Durkheim ocupa a primeira cátedra de Sociologia<br />

na École. Na verdade, funda a Sociologia acadêmica na França. No fundo, acontece a<br />

mesma coisa com Florestan Fernandes, na medida em que ele constrói a linguagem<br />

acadêmica da Sociologia no Brasil. O que é construir esta linguagem? É diferenciar a<br />

linguagem sociológica da literatura. Florestan tem até um texto onde teoriza a questão. Ele<br />

diz que o ensaio, por isto é que ele não escrevia ensaio, é a forma literária de escrever, era o<br />

estilo do estamento, o estilo da oligarquia. E que Ciência não podia seguir a mesma<br />

linguagem. É claro que ele não tinha tido uma formação que lhe permitisse ser um estilista,<br />

e escrever literariamente tão bem, porque isto pressupõe todo um processo pelo qual não<br />

tinha passado.<br />

Ele até transformou em virtude o que seria uma limitação!<br />

Exatamente, a aproximação que eu faço é nesse sentido. Todavia, eu não tenho dúvida de<br />

que Durkheim é um autor central na concepção do Florestan sobre a Sociologia. Não é só<br />

porque em um primeiro momento de seu pensamento se aproxima ao estruturalfuncionalismo,<br />

onde a presença do Durkheim foi muito importante. De fato, isto é verdade.<br />

Mas, não é só por isto. Isso ocorre mesmo no andamento posterior de sua Sociologia,<br />

mesmo no chamado Florestan marxista, mesmo sendo momentos diversos, situações muito<br />

diferentes. Mas, eu quero ressaltar o significado que cada um tem em seu contexto. Neste<br />

sentido, eles têm proximidade. E, finalmente, do ponto de vista da importância do<br />

Durkheim na formulação do pensamento. Veja, mesmo posteriormente, quando Florestan<br />

Fernandes é o sociólogo, inadequadamente chamado marxista, mas, quando ele é mais<br />

marxista do que no primeiro momento de sua reflexão, Durkheim continua importante na<br />

formulação da noção “ordem social competitiva”. Porque ela é naturalmente a ordem do<br />

capitalismo da sociedade industrial, mas, como Florestan Fernandes constrói esta noção?<br />

Através desta categoria, ele pretendia dar conta não só da dinâmica do capitalismo, mas, da<br />

sua particularidade, do ponto de vista da realização do capitalismo em países periféricos<br />

como o Brasil. Tanto que, em A revolução burguesa no Brasil, acho que isto é uma coisa<br />

que tem um forte significado. Sendo uma socióloga da cultura, a forma é sempre muito<br />

importante na maneira em que procuro refletir sobre as coisas. Nesse texto, o capítulo<br />

dedicado à ordem social competitiva chama-se “Fragmento”, e é um capítulo no meio do<br />

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