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CONVERSAS COM SOCIÓLOGOS BRASILEIROS ... - GV Pesquisa

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esta razão fui estudar a percepção da elite sobre o problema da desigualdade. O que é que<br />

cria um mínimo de solidariedade entre pessoas tão desiguais?<br />

Por que a percepção da elite, e não formas de solidariedade?<br />

Porque a percepção da elite é tema menos estudado. Todo mundo tem estudos sobre<br />

estratégias de sobrevivências das camadas populares. Ninguém pensa como é que os ricos<br />

convivem com isto. Coisas banais: vou a um restaurante e tem uma criança pedindo comida<br />

na calçada, como é que eu convivo com isto? De alguma forma eu tenho de processar isso.<br />

Este tipo de coisa começou a me fazer pensar. Eu me vi como elite, depois fiquei pensando<br />

na elite de verdade, como é que eles se justificam? As racionalizações das elites são o que<br />

justifica a persistência de um padrão de distribuição tão perverso. Mais ainda, se as elites<br />

perceberem como desejável reduzir a pobreza elas se mobilizarão nesse sentido. É isso que<br />

Abram de Swaan mostra no caso da criação do welfare state na Europa, como salientei<br />

antes. Contudo, a elite dos países menos desenvolvidos parece ter percepções bem<br />

diferente.<br />

Que respostas você dá a estas indagações?<br />

Bem, só tenho respostas muito macro. Acho que no caso da Europa, a elite não se via<br />

como distinta do Estado. Ela constituiu o Estado. Enquanto que a elite brasileira, e a latinoamericana,<br />

em geral, quando chega ao poder, defronta-se com um Estado constituído de<br />

fora. Então, ela não se sente responsável. Ela é muito sensível ao problema da pobreza, tem<br />

medo da pobreza, acha que a pobreza ameaça sua propriedade, sua segurança. Isto é central<br />

para ela. Mas, responsabiliza um outro ator, o Estado, mesmo quando ela está dentro do<br />

Estado, quando ela é o Estado.<br />

A idéia do legado histórico pesa muito em sua análise?<br />

Pesa muito, mas tenho muita implicância com a idéia de um pecado original que explica<br />

tudo. O que me interessa é saber como é que as pessoas recriam este legado. Porque ele não<br />

sobrevive necessariamente. Nos Estados Unidos, por exemplo, houve escravidão, mas foi<br />

para outro caminho. O importante é conhecer as escolhas e saber como se recria o legado.<br />

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