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CONVERSAS COM SOCIÓLOGOS BRASILEIROS ... - GV Pesquisa

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Sim, mas o problema é que só isoladamente existem algumas manifestações neste sentido.<br />

Primeiro, não se tem construído uma mobilização para que isto tenha viabilidade. E depois,<br />

acho que o que está acontecendo no mundo atual é que os espaços de exercício da vida<br />

intelectual foram perdendo a importância. A Universidade e a própria atividade intelectual.<br />

Tudo é instrumental, o que importa é a eficácia. Lembro aquela maravilhosa frase de<br />

Adorno, quando diz que a cultura só é útil se for inútil. Tem-se que ter a coragem de falar<br />

da utilidade do aparentemente inútil. É que tudo virou utilitário. É a frase do Bourdieu, tudo<br />

o que for para o campo do mais útil ou da economia, é um sistema que ficou naturalizado,<br />

independentemente da sociedade. Como se fosse só coisa da Natureza. Então, neste<br />

movimento, a Universidade é tragada, a não ser aquela mais conectada com os mecanismos<br />

imediatos, da profissionalização imediata. Vivemos o domínio pleno da opacidade! Aquilo<br />

que o Marx chamava de dinâmica das ilusões, das ilusões necessárias. É o momento em que<br />

o domínio da mercadoria é tal ordem que parece que isto é natural em todos os campos.<br />

Quando a equivalência mercantil domina o mundo, tudo o que não é equivalência deixa de<br />

ser importante. Então, o que aconteceu para voltar a fragmentação? É como se esta<br />

dinâmica da mercadoria fosse natural porque, tal como Marx mostra no fetiche, e acho que<br />

isto é uma das coisas mais fantásticas produzidas nos últimos séculos, a mercadoria perde a<br />

conexão com o referente. Isto tem desdobramentos fantásticos para a área da Cultura. O que<br />

é a autonomia da significação? O nexo co-referente existe, mas não aparece. É como se<br />

tudo fosse pura significação e tivesse se desprendido dos nexos sociais, como se não tivesse<br />

conexão com eles. O que aconteceu com o mundo nos últimos meio séculos? De um lado, a<br />

lógica da mercadoria dominou tudo. E como na sua dinâmica, ela está desconectada do<br />

referente, parece que não tem compromisso com nada. E quando a lógica da mercadoria<br />

domina tudo, aquilo que não está diretamente submetido à lógica do útil deixa de ser<br />

importante. A segunda coisa, é que nesta lógica totalitária ela convive com a fragmentação.<br />

Porque a dinâmica do todo é uma dinâmica da fragmentação. Fragmentação e<br />

homogeneização não se opõem, neste processo. E, no plano do conhecimento, o que<br />

acontece é que a homogeneização mercantil leva à fragmentação no âmbito do pensamento.<br />

Porque, para ser útil tem de ser sempre singular, porque uma grande construção escapa à<br />

utilidade imediata. Então, o conhecimento também fragmenta, quando é útil. De outro lado,<br />

o mundo teve um processo imenso de transformação e ficamos todos um pouco perplexos.<br />

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