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CONVERSAS COM SOCIÓLOGOS BRASILEIROS ... - GV Pesquisa

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analítico, que até deu trabalhos interessantes, mas a produção sociológica não é muito<br />

marcada por isto, a não ser na área de estratificação social e estrutura de classes. A questão<br />

é que o Marxismo sempre teve dificuldade de lidar com os processos de transformação<br />

social que implicavam passar da análise propriamente estrutural para a análise concreta,<br />

porque isso envolvia uma espécie de dissociação, nunca reconhecida, entre o ator coletivo e<br />

a classe. Isso matou o marxismo, porque sempre o ator coletivo específico era logo<br />

vinculado a uma certa classe. Ora, fazer esta análise não é simples, porque não dá para<br />

imputar a tal ou qual ator ser ou não ser a expressão de uma classe, ou ser a expressão falsa<br />

de uma classe. A dificuldade de sair das análises macro-estruturais para a análise<br />

propriamente política sempre existiu, porque tem de se passar tanto das macro-estruturas<br />

para a ação coletiva, quanto da ação coletiva para as estruturas. Todas estas passagens<br />

sempre foram muito pouco elaboradas no Marxismo. Os marxistas que produziam<br />

teoricamente estavam engajados em movimentos revolucionários. O problema deles era um<br />

pouco diferente. Não era fazer grandes distinções, mas a revolução. Isso sempre foi uma<br />

dificuldade do Marxismo. Hoje, temos análises de movimentos sociais, dos atores coletivos<br />

etc., mas raramente são vinculados à classe. Porque é difícil estabelecer esta conexão. Ela<br />

nunca foi bem elaborada teoricamente. Trabalha-se muito com conceitos como sociedade<br />

civil e Estado. Os atores estão “em uma sociedade civil” que é um berçário de movimentos,<br />

mas, não se consegue identificar uma estrutura interna. Isto tem a ver com a dissociação<br />

entre a ação coletiva e a estrutura social, ou estrutura de classes. Deriva desta dificuldade o<br />

fato de que o Marxismo sempre teve que lidar com o plano simbólico. Na leitura de O<br />

Capital há a tendência de se passar muito rapidamente pelos vários capítulos em que esses<br />

processos são estudados. Dou um exemplo: a forma salário, que, aliás, tem um capítulo<br />

com este título. O salário é uma quantidade de dinheiro, é um pagamento da força de<br />

trabalho. A forma salário é a maneira como é percebido este pagamento. Tudo é estudado<br />

lá, mas, a tradição marxista não percebeu. Digamos que tomou como se fosse automático.<br />

Isto significa que, nas suas análises concretas imaginava que o mundo simbólico estava na<br />

superestrutura, que é a menos relevante. Ora, o funcionamento do mundo concreto, usual,<br />

das empresas, de qualquer mercado, sempre envolve simbolização. Os homens não são<br />

mentecaptos.<br />

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