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CONVERSAS COM SOCIÓLOGOS BRASILEIROS ... - GV Pesquisa

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mudamos de lá porque tinha muita briga com o proprietário. Meses depois, aluguei um<br />

apartamento na banlieu, perto de onde o Bourdieu morava. Mas, o dinheiro era o mesmo.<br />

Como foi sua experiência na França?<br />

.Em 1974, 75 vi muito o início do Centro de Sociologia Européia que Bourdieu criou na<br />

École.. A montagem da revista estava sendo feita em 1975 Em 1976 saiu o primeiro<br />

número. Antes de voltar ao Brasil ele já me obrigou a escrever o texto Poder e Sexo, que<br />

saiu em francês na Revista. Com eu estava com problemas pessoais, meu casamento estava<br />

em crise, quis voltar ao Brasil, mas Bourdieu disse: você não pode voltar sem ter testado<br />

esta sua argumentação. Eu conto no meu Memorial na USP como foi o encaminhamento do<br />

material. Eram poucos orientandos, eu, o Louis Pinto, um judeu argelino, o Polack, que era<br />

um austríaco. E Bourdieu tinha muito mais tempo. Ele estava muito mais em cima dos<br />

orientandos, lia cada um dos trechos de nossos trabalhos. Eu dividia a sala com Monique<br />

de Saint Martin. Eram todos jovens e estavam ali em torno, porque o circuito de um patrão<br />

francês é algo inacreditável. Todos tremem só de ouvir-lhes a voz. O modelo é a vida<br />

religiosa.<br />

É por isto que você o chama “patrão” no seu Memorial?<br />

É, mas, eles se chamam patrão. Para se chegar a esta posição é sinal de que se controla<br />

muita verba, muito recurso. De patrão eu conhecia bem: Florestan, na USP; Angarita na<br />

<strong>GV</strong>. Então, primeiro eu testei com os assistentes e eles disseram, ele não vai gostar muito<br />

desta história. Negócio de carreira masculina, carreira feminina. Nunca vimos isto aqui. Isto<br />

até faz sentido na tradição francesa, mas o material tem que mostrar isto. Eu repliquei: Isto<br />

está visível no material. Quando Bourdieu leu, disse: “Isto é interessantíssimo, é uma boa<br />

sacada. Pode continuar”. Logo na semana seguinte à leitura do material, ele me disse, olha,<br />

eu fiquei pensando sobre seu material e sobre a relação com a minha mulher, com nossos<br />

filhos, e deles na relação conosco. Com o seu trabalho comecei a atinar porque isto é tão<br />

diferente a relação com os filhos que têm a mesma mãe e pai. Então, eu pensei se o homem<br />

está pensando em sua própria vida, é sinal de que aquilo calou realmente, porque ele não<br />

está mais pensando na teoria.<br />

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