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CONVERSAS COM SOCIÓLOGOS BRASILEIROS ... - GV Pesquisa

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Não. Este trabalho perdeu o sentido. De certa maneira se acabou. Tinha sentido enquanto a<br />

Igreja, sobretudo na Amazônia, estava muito desprotegida. Ela não tinha apoio intelectual<br />

de ninguém. A primeira pessoa que me levou foi o Pedro Casaldáliga, que hoje é meu<br />

compadre. Eu sou protestante e ele é meu compadre. Eles precisavam de gente em uma<br />

situação de quase ocultamento, vamos dizer clandestinidade, que desse cursos, ajudasse a<br />

entender o que era a situação da fronteira, as fragilidades da situação da região.Ele me<br />

levou para dar cursos para a Pastoral da Terra. Ficava lá mais de um mês. Aproveitei e fiz<br />

minha pesquisa sobre a fronteira, em toda a Amazônia. Percorri os grandes rios.<br />

E a Igreja dava apoio?<br />

Dava apoio logístico. Eu levava a minha rede. Também não era preciso muita coisa para<br />

apoio logístico. Davam a comida. Eu ajudava a lavar os pratos. Foi aí que nasceu a<br />

Fundação Martins de Amparo à <strong>Pesquisa</strong> (risos). A Câmara dos Deputados me intimou para<br />

depor em uma comissão de inquérito, porque eu tinha feito denúncias, pois ao descer o Rio<br />

Tocantins eu tinha descoberto o trabalho escravo. Dei nomes e falei tudo o que tinha visto<br />

pelo caminho. Um membro da Comissão de Inquérito perguntou-me quem financiava o<br />

trabalho. Ele queria que eu dissesse que era Moscou. Mas eu respondi: é a Fundação<br />

Martins de Amparo à <strong>Pesquisa</strong>. Saiu assim no Diário Oficial: Fundação Martins de Amparo<br />

à <strong>Pesquisa</strong>. Ele ficou totalmente sem graça, porque ele deveria perguntar então, quem<br />

mantinha a Fundação, mas ele não quis mostrar ignorância. Mas disse: que sorte a sua o<br />

senhor ter uma fundação que o atende. Em minha pesquisa percorri toda a Amazônia:<br />

trabalhei em Rondônia, Acre, Pará, Amazonas, Mato Grosso, Maranhão e Goiás antigo.<br />

Foram 20 anos. O diário de campo tem mais de trinta volumes, entre 8 e 10 mil páginas.<br />

Neste período eu aproveitava as viagens para dar cursos, fazer reuniões, seminários, trocava<br />

idéias, sugeria leituras. No público tinha de tudo desde índio até bispo, agente de pastoral.<br />

Eu ajudei a formar os quadros da CPT. Ajudei a formar os quadros iniciais do MST. De<br />

fato, eu ajudei muito.<br />

Por que você acha que não faz mais sentido?<br />

Porque eles têm quadros próprios. Eu sempre insisti eles que formassem quadros próprios<br />

de assessores. A partir de 90, pouco antes de ir para a Inglaterra já comecei a mostrar que<br />

tinham condições, pois já não existia mais a ditadura, de formarem pessoas especializadas<br />

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