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CONVERSAS COM SOCIÓLOGOS BRASILEIROS ... - GV Pesquisa

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Depois, antes de terminado o trabalho de doutorado, você foi trabalhar na Bélgica?<br />

Quando Bastide ficou doente eu estava no Brasil realizando a pesquisa de campo. Sua<br />

secretária enviou-me um telegrama dizendo que ele havia me indicado para um posto na<br />

Universidade de Louvain, flamenga, não a francesa. O departamento de Antropologia<br />

necessitava de alguém para trabalhar a problemática da América Latina e recorreu à ele. Fui<br />

contratado para dar aulas no mestrado, sobre antropologia urbana e das religiões. Morava<br />

em Paris, ia de trem. Isto foi em 1974 e 75, não havia ainda defendido o doutorado. Eu era<br />

lector, o início da carreira, não pagavam uma fortuna, mas recebia o suficiente para afastarme<br />

de minha condição de lumpenproletariado.<br />

Você falou há pouco sobre seu encanto com a formação e a erudição de Bastide. O que<br />

diferenciava sua perspectiva das visões correntes de Ciências Sociais?<br />

Primeiro, a não divisão entre Sociologia e Antropologia, a liberdade de se transitar entre as<br />

fronteiras disciplinares sem a necessidade de apresentar uma carteira de identidade,<br />

sociólogo ou antropólogo. No caso francês, pelo menos na época, isso não se aplicava aos<br />

cientistas políticos. A Ciência Política é uma invenção norte-americana, recente, que<br />

tardiamente introduziu-se no Brasil e na Europa. Na França, ela desfrutava de uma posição<br />

inferior, sendo associada à um saber técnico, de formação de quadros para o Estado e os<br />

partidos, por exemplo, os alunos de Sciences Politiques. A política era considerada o<br />

coração das Ciências Sociais, dificimente poderia constituir como uma especialidade a<br />

parte. Por outro lado, a tradição francesa privilegiava uma forte conexão entre Sociologia e<br />

Antropologia. Esta dimensão faz parte de minha formação inicial, e creio, encontra-se<br />

presente até hoje. Tenho dificuldade em estabelecer uma separação nítida entre esses<br />

domínios. Eu diria uma separação tática, tudo bem, na medida em que os problemas vão<br />

sendo enfrentados. Porém não vejo uma separação epstemológica entre elas. Acredito que<br />

essas distinções disciplinares sejam mais estratégicas, em função da existência institucional<br />

dos campos de saberes, do que propriamente uma questão teórica. A sociedade é um todo e<br />

devemos construir os objetos de conhecimento buscando dar conta desta totalidade (neste<br />

sentido o pensamento marxista é também rico, pois na sua formulação clássica evitava a<br />

compartimentalização do conhecimento). Bastide tinha esta capacidade totalizadora.<br />

Quando li as Religiões Africanas no Brasil, chamou-me a atenção o cuidado com as notas<br />

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