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CONVERSAS COM SOCIÓLOGOS BRASILEIROS ... - GV Pesquisa

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informação. As Ciências Sociais trabalham com a informação, porém, diferentemente das<br />

ciências da natureza, sua natureza é interpretativa. Neste caso, uma língua franca<br />

“funciona” mal, pois o texto é vazado pelo contexto. Como o cientista social tem como<br />

instrumento principal a escrita, a língua é o meio através do qual ele constrói o objeto<br />

sociológico. Quero dizer, o objeto vem marcado pela língua. Por isso, quando lemos textos<br />

em inglês, escritos por pessoas de outro idioma, temos a sensação de que está faltando<br />

alguma coisa. Por que? Porque o inglês, trabalhado desta forma, economiza na confecção<br />

do artefato e maximiza a dimensão comunicativa e informativa. Tem-se assim uma perda<br />

das nuanças, cujo resultado é indubitavelmente nefasto para a interpretação. Não obstante, é<br />

preciso ter claro que vivemos num mundo no qual a língua inglesa é dominante. Por isso<br />

vejo a tradução como um elemento fundamental. No momento em que existirem as<br />

máquinas de tradução, as coisas se tornarão mais fáceis. Mas estamos longe disso. A<br />

tradução é importante porque transmite e valoriza a riqueza do texto. O problema é como<br />

pensá-la no âmbito das Ciências Sociais. Uma língua dominante implica em relações de<br />

poder. Como enfrentá-las? Acho importante, cultivar vários idiomas, não apenas como sinal<br />

de erudição, mas, como um elemento de trânsito no contexto mundializado. Não podemos<br />

nos conformar à uma redução do universo teórico e temático, tal como o encontramos nas<br />

bases de dados tipo Portal Capes. Elas estão predominantemente em inglês, naturalizando a<br />

sua utilização. A universidade deveria possuir uma diversidade de bases de dados,<br />

estimulando o cosmopolitismo das idéias e não o provincianismo global. Elas deveriam<br />

também incentivar uma política de tradução, vertendo para outros idiomas, entre eles o<br />

inglês, as pesquisas que nela são realizadas. Somente assim poderemos redefir nossa<br />

condição de subalternidade. Traduzimos os outros, mas não somos traduzidos.<br />

Qual o papel das Ciências Sociais no mundo contemporâneo?<br />

Penso que já não é mais suficiente para as Ciências Sociais brasileiras debruçarem-se<br />

apenas sobre o Brasil. Temos entre nós, cientistas sociais muito bem formados. Aliás, é<br />

paradoxal, pois, na sua formação são cosmopolitas, falam e lêem vários idiomas, porém, na<br />

realização de seus trabalhos, o objeto escolhido é sempre pontual, a temática é<br />

predominantemente nacional. As Ciências Sociais no Brasil já têm uma tradição acumulada<br />

que lhes permite alçar outros vôo. Outro ponto importante, é entender melhor as linhas de<br />

força do campo intelectual em escala mundial. Saber nele inserir-se e, eventualmente, tirar<br />

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