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CONVERSAS COM SOCIÓLOGOS BRASILEIROS ... - GV Pesquisa

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Acho que dá para dizer que você opera nas duas dimensões; de um lado, fazendo uma análise<br />

interna, e de outro, levando em consideração o contexto léxico no qual a reflexão se insere,<br />

sendo este internacional.<br />

Sim, acho que se deve levar em conta estes dois aspectos. O primeiro você já aludiu: o contexto<br />

não deve ser encarado um dado natural, tal como sugerido pelas interpretações de Dominick<br />

LaCapra, que costuma chamar a atenção para o fato de que o contexto,em qualquer das nossas<br />

disciplinas, é sempre o resultado de uma construção intelectual. Há, por conseguinte, inúmeros<br />

tipos de contexto que podem ser produzidos, a depender do interesse: contextos familiares,<br />

intelectuais, de classe, políticos etc... O que eu tentei fazer na tese foi esboçar alguns contextos<br />

para Gilberto, aqueles que considerei mais relevantes, como o do debate com a sociologia<br />

internacional, por exemplo. Contudo, por outro lado, decidi privilegiar a análise interna, levando<br />

em conta alguns contextos, mas impedindo que eles se convertessem nos responsáveis pela<br />

constituição do texto, até mesmo porque autores significativos, como Gilberto, escrevem com<br />

muita freqüência contra o seu tempo, vale dizer, contra o seu contexto. Gilberto, na verdade,<br />

reagia enfaticamente na só ao contexto intelectual mas também ao contexto cultural e político<br />

brasileiro, denunciando vigorosamente a cultura da elite da época, que ele chamava<br />

pejorativamente de “requintada”, pretendendo desmoralizar o vínculo incondicional que ela<br />

tentava manter com as modas européias, que ele considerava como uma espécie de referência<br />

negativa, quase desprezível. Não foi a toa, aliás, que ele resolveu fazer a sua pós-graduação nos<br />

Estados Unidos, que parecia cultivar, em oposição à Europa, sobretudo nos anos 30, um estilo<br />

nada pomposo, simples e autêntico.<br />

Se não tivesse este traço, não teria tido o efeito que teve a obra. Não apenas por isso, mas<br />

também por isso.<br />

Gilberto parece cultivar um estilo intelectual marcado pela naturalidade e pela autenticidade,<br />

criticando o cosmopolitismo que caracterizava a elite brasileira, sobretudo até os anos 20 e 30. Só<br />

que, na verdade, ele enfrenta este cosmopolitismo recorrendo a um outro, de caráter modernista,<br />

no qual a preocupação com o Brasil está certamente muito presente, mas sobre-determinada por<br />

outro conjunto de leituras e reflexões, igualmente internacionais.<br />

Recentemente você fez um texto sobre Joaquim Nabuco.<br />

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