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CONVERSAS COM SOCIÓLOGOS BRASILEIROS ... - GV Pesquisa

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pouco a pouco, percebi que este ponto simplesmente não existia, inclusive porque, como entendi<br />

mais adiante, aquela maneira meio fluida e oral dele escrever estava vinculada à própria natureza<br />

dos seus argumentos mais substantivos acerca da sociedade brasileira. Comecei a perceber, então,<br />

que valia a pena tentar concentrar-me em Gilberto, arriscando uma interpretação da sua obra de<br />

cunho mais sociológico. Por outro lado, dando aulas de Teoria da História na PUC, comecei a<br />

me interessar por alguns autores ligados à tradição intelectual alemã, como Nietzsche, Weber e<br />

Simmel. Comecei a me interessar por este mundo intelectual, que para mim era uma relativa<br />

novidade. À medida que fui lendo Gilberto Freyre e que oferecia cursos sobre Weber e Thomas<br />

Mann, por exemplo, passei a ter a sensação de que seria possível extrair dessa tradição algumas<br />

hipóteses para tentar dar conta da Sociologia que ele fazia. Nietzsche, seguramente, foi um autor<br />

da maior importância neste contexto, pois, de repente, me dei conta de que aquela organicidade,<br />

que para mim era quase que um sinônimo tanto da Sociologia quanto da Antropologia, havia<br />

perdido parte do seu significado. Em outras palavras, a aproximação entre a obra de Gilberto e a<br />

reflexão alemã tornou possível que eu relativizasse o destaque que havia concedido até então à<br />

correntes sociológicas mais sistemáticas, como o Funcionalismo anglo-saxão e o Estruturalismo<br />

francês. A preocupação em se lidar com o argumento sociológico em função de uma explicação<br />

bem armada e conectada, não está, de fato, presente em Gilberto. É como se ele estivesse<br />

operando com uma noção muito mais frouxa de sociedade. Assim, terminei salientando o termo<br />

que ele cunhou para assinalar a existência de ambigüidades e tensões na sociedade brasileira:<br />

antagonismos em equilíbrio. Procurei mostrar que ele pensava a nossa sociedade como um<br />

conjunto variado de posições, que podiam até se aproximar, mas que nunca se resolviam em uma<br />

síntese mais orgânica.<br />

Que cursos no doutorado o levaram à perspectiva analítica que acabou adotando?<br />

O que mais importa nesta perspectiva é a relação entre Modernismo e Antropologia, que foi<br />

desenvolvida em alguns cursos que acompanhei durante o doutorado. Não se trata,<br />

evidentemente, de pensar Gilberto como se fosse um autor de ficção. Mas ele é um autor<br />

importante no Modernismo brasileiro, tem conexões com o Modernismo norte-americano e com<br />

o francês, o que permitiu que, a partir dos debates em torno da instauração da arte moderna,<br />

certas categorias estéticas viessem a ter um rendimento sociológico em sua reflexão. Fiz cursos<br />

sobre essa temática com Roberto DaMatta e com Otávio Velho, cursos que contribuíram para<br />

que eu começasse a pensar o Gilberto nesta perspectiva. Por exemplo, a oposição<br />

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