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CONVERSAS COM SOCIÓLOGOS BRASILEIROS ... - GV Pesquisa

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desqualificação que os autores associados a esse movimento sofriam.A mera suspeita de vínculo<br />

com o Fascismo já era suficiente para desqualificar...<br />

É certo que essa rejeição tinha a ver com o clima de crítica à ditadura.<br />

Sem dúvida. Havia um clima político que praticamente inviabilizava se levar este tipo de<br />

concepção a sério. O próprio conservadorismo, típico dos autores dos anos 30, ainda era visto<br />

como algo condenável, embora, digamos, um pouco mais respeitável. Enfim, a minha primeira<br />

alternativa foi a de tentar pensar a obra de Plínio Salgado na perspectiva do pensamento<br />

conservador, em um esforço de chamar a atenção para o fato de ela desenvolvia um argumento<br />

minimamente complexo e significativo. Fiz um artigo sobre o tema, que saiu publicado na<br />

Revista de Direito Público da Fundação Getúlio Vargas. Entretanto, conforme pesquisava os<br />

trabalhos de Plínio, Gustavo Barroso e Miguel Reale, fui me dando conta de que, ao menos no<br />

que se referia aos dois primeiros, imaginá-los como pensadores conservadores seria um<br />

procedimento, no mínimo, reducionista. O conservadorismo se define por uma determinada<br />

perspectiva hierarquizante, por uma visão orgânica da vida social, nada mobilizante e vinculada a<br />

um tipo de diferenciação complementar já inteiramente naturalizada. Percebi que este tipo de<br />

argumento dificilmente serviria para dar conta dos textos integralistas de Plínio e de Gustavo<br />

Barroso. Fiquei, portanto, com um dilema, buscando uma categoria para tornar o seu sentido<br />

mais inteligível, principalmente porque continuava com a preocupação de analisar<br />

academicamente aqueles textos, considerando que havia ali uma reflexão forte e não apenas,<br />

como se dizia na época, uma mistificação, ou um delírio, produzida por aqueles autores.<br />

Terminei recorrendo à categoria totalitarismo, também muito desqualificada, surgida nos<br />

próprios anos trinta e que se populariza nos anos cinqüenta, no contexto da Guerra Fria. Ela era<br />

habitualmente utilizada para aproximar, de modo simplista, a União Soviética das experiências<br />

nazi-fascistas, e com isto, desacreditar não só a versão soviética, mas o marxismo como um todo.<br />

Tratava-se, evidentemente, de uma categoria perigosa, sobredeterminada por um enorme<br />

conjunto de intenções políticas. Contudo pareceu-me que, apesar disto, ela podia até certo ponto<br />

ser intelectualmente fecunda, pelo simples fato de que alguns dos autores que a utilizavam<br />

chamavam a atenção para o fato de que o processo totalitário podia se converter numa espécie de<br />

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