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CONVERSAS COM SOCIÓLOGOS BRASILEIROS ... - GV Pesquisa

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Estou pensando também no campo das artes. A partir da guerra a França vai perdendo sua<br />

posição no campo das artes, deixando de dar o tom como centro mundial das artes, da<br />

literatura e da Ciência Social, naturalmente. E da História, pois a importância da<br />

historiografia francesa é imensa. Mas hoje, de certa maneira, satelitizou a historiografia<br />

americana. Eu acho que a crítica de Bourdieu sobre a perda de autonomia do campo<br />

intelectual só podia ser elaborada por um pensador francês. Quer dizer, expressa o<br />

desconforto do intelectual francês diante do que está acontecendo. Eu compartilho desse<br />

desconforto, porque o que substituiu, do ponto de vista da reflexão, a hegemonia intelectual<br />

que a França manteve no mundo durante um certo tempo, foi, com algumas exceções<br />

honrosas, a pior fragmentação do pensamento, a empiria mais pedestre. Eu conheço um<br />

pouco desse lado muito perverso porque fiquei muitos anos envolvida com a política da<br />

pós-graduação e com a sua avaliação. Uma coisa que eu percebi é que a grande dificuldade<br />

que tínhamos, enquanto área de Ciências Sociais, mas, mais do que isto, as chamadas<br />

humanidades, é que os critérios de avaliação vêm das áreas que não são as humanas. Eu<br />

brincava e dizia nos Conselhos científicos dos quais participei, que era a área dos<br />

desumanos. Não era só isto. É que os critérios vêm de uma concepção de conhecimento<br />

que seria oposta à francesa, em todos os campos. Desde a idéia de fragmentação, da empiria<br />

etc, mais direta, mas, há uma coisa que é o imediatismo, que pegamos em detalhes, do<br />

conhecimento. Vou dar um exemplo. Forçava-se que eu colocasse como critério na<br />

avaliação da Sociologia, que era a área da qual era diretamente responsável, além de ser<br />

representante das humanidades no Conselho científico, o conhecimento pronto, de fácil<br />

assimilação e rápido. Outro padrão que não cabe é dizer, na nossa área, que o melhor é o<br />

último, porque não se trata disciplinas paradigmáticas. Melhor do que isto, porque as nossas<br />

referências são difusas. Por isto o processo de formação é longo, porque não se tem uma<br />

teoria assentada e não se ajusta o objeto à teoria. Temos referências difusas e o problema é<br />

construir as referências para cada momento. Isto é demorado!Construção e desconstrução o<br />

tempo todo.Então, o último não é necessariamente o melhor . Eu batalhei muito para que se<br />

respeitasse a especificidade da área de Ciências Sociais e mais, das humanidades. Contra<br />

essa visão de produção rápida, uma imagem atrás da outra, onde não existe espaço para<br />

refletir.<br />

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