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CONVERSAS COM SOCIÓLOGOS BRASILEIROS ... - GV Pesquisa

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Weber – carrega um marca profunda que o liga ao mundo de forma particular. Essa questão<br />

passa pelo círculo mundano do catolicismo, da imanência; pode-se pecar, mas, até na hora<br />

da morte teremos salvação, pois confessa-se, fica-se de bem com o mundo, até pecar<br />

novamente. Então, este conflito muito complicado, esta questão da minha relação com as<br />

Ciências Sociais tem um lado meio missionário do catolicismo tradicional. E acho que tem<br />

outra coisa. Outro dia, estava pensando por que fui fazer Ciências Sociais, e me lembrei de<br />

que quando era menina havia algumas coisas que me marcaram muito. Morei em fazenda,<br />

mas, sou de uma geração que já não tem muito contato com o campo, mas é uma trajetória<br />

muito particular. De um lado, pela formação católica do meu pai, ele costumava falar do<br />

igualitarismo abstrato do cristianismo. Ele dizia: sua amiga que é filha da cozinheira – e<br />

quando se mora em fazenda, nas relações tradicionais, a sua amiga é a filha da cozinheira,<br />

do empregado – ela é como você! Apesar disto, papai sempre falou, embora oriundo do<br />

estamento, e tinha essa posição creio que por causa da sua formação católica. Nós somos<br />

todos iguais, ele dizia. Outra coisa de que me lembro, foi quando a gente ia para o Rio e<br />

chovia, íamos de trem, da Leopoldina, que não existe mais. Quando chovia, a gente ia para<br />

o Rio de trem noturno. Ele parava naquela região de Petrópolis e Teresópolis de manhã,<br />

fazia muito frio, e tinha uns meninos, muito pobres, que cercavam o trem. Então, de vez em<br />

quando eu imagino que, aquela sensação daqueles meninos pobres, e eu era rica, me<br />

causava muito mal estar. Uma das coisas que eles pediam era jornal, para se cobrirem<br />

porque o jornal aquece. Eu me lembro que aquilo me dava uma sensação de injustiça.<br />

Quantos anos eu devia ter na época? Cinco, seis, não sei bem, mas, era muito pequena! Esta<br />

coisa da injustiça quer pelo catolicismo, quer por estas experiências, acho que isto pode ser<br />

uma reconstrução também. Perguntaram-me uma vez por que eu fiz Ciências Sociais. E eu<br />

achei que isto era uma coisa que me marcou desde a mais tenra infância. Então, eu achava<br />

que Ciências Sociais me permitia ter uma visão diferente de mundo. Hoje, eu gosto muito.<br />

Eu acho que a Sociologia me salvou, porque me permitiu enquadrar minha vida! Eu<br />

ingressei no curso em 1967, com 17 anos.<br />

Quais foram as influências intelectuais no curso?<br />

Quando ingressei em Ciências Sociais eu detestei, para falar a verdade. Logo depois, sai da<br />

Maria Antônia para a Cidade Universitária. Mas, aquilo era de uma arrogância horrível. Por<br />

exemplo, meu primeiro curso foi com o Luiz Pereira. Eu sei que ele teve uma grande<br />

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