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CONVERSAS COM SOCIÓLOGOS BRASILEIROS ... - GV Pesquisa

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Quando falamos disto parece que estamos voltando à gênese da reflexão sociológica, que a<br />

rigor, no século XIX emerge desta tensão. Do meu ponto de vista, tanto quando eu percebo,<br />

ando muito humilde no que diz respeito ao meu trabalho na Sociologia, acho que depois da<br />

invenção do inconsciente não somos transparentes. Nós nem nos conhecemos. Então, é<br />

necessário ter humildade mesmo. Da minha perspectiva, não existe um lamento desta<br />

maneira, porque os valores pré-modernos no Brasil estavam comprometidos com<br />

desdobramentos de uma sociedade que passou quatro séculos sob o regime da escravidão.<br />

Aquilo dava em uma economia moral, a qual produzia valores que faziam a coesão. O<br />

problema é que o processo de ruptura, de destruição disto foi de uma violência e de uma<br />

rapidez muito grande, e não se constituiu, ao mesmo tempo, um sistema valorativo<br />

moderno, e que fornecesse uma nova coesão.<br />

Nós não conseguimos construir as formas de sociabilidade moderna, a não ser<br />

sindicatos, partidos, e direitos garantidos pela esfera pública.<br />

Para pensar a outra parte da sua pergunta, o fato de o socialismo ter saído de cena,<br />

evidentemente, cria um vácuo. Mas, do ponto de vista das camadas populares não é bem<br />

este vácuo, porque os motivos não estão aí. Quer dizer, do meu ângulo, não estou<br />

lamentando, mas, estou dizendo que as formas novas de integração não foram tecidas. Na<br />

medida em que elas não foram tecidas tem-se um vácuo, a barbárie. Eu sou muito<br />

pessimista. Sou uma pessoa otimista do ponto de vista da minha vida pessoal, das minhas<br />

relações sociais. Como socióloga sou muito pessimista. Não tenho dúvida de que acho que<br />

os frankfurtianos tinham razão. Estamos vivendo a barbárie mais deslavada, não no Brasil,<br />

mas, no mundo!<br />

Neste sentido quando você fala da anomia, referindo-se ao Brasil, eu acho que se trata<br />

de uma situação muito mais generalizada do que particular.<br />

Por isto é que estou falando que naquele momento, nos anos 70, a indagação que Gabriel<br />

Cohn estava fazendo é uma pergunta que é fundamental hoje. Por isto é que estou dizendo<br />

que é uma reflexão pioneira. Ele está perguntando, a partir dos frankfurtianos, qual a<br />

possibilidade de a razão dialogar com a barbárie. Trata-se de uma pergunta que caiu no<br />

vácuo, mas que é fundamental.<br />

E a pergunta talvez tenha sido “quais são os limites de civilização da nossa sociedade”?<br />

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