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CONVERSAS COM SOCIÓLOGOS BRASILEIROS ... - GV Pesquisa

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eu tinha “perdido”, fiz dois cursos em um ano. Então, fiquei enlouquecido, trabalhava de<br />

manhã à noite, mas, um pouco insatisfeito com algumas disciplinas de Economia, que não<br />

me agradavam. Coincidiu com esta insatisfação o tipo de curso que eu estava tendo. Além<br />

de não gostar muito de Contabilidade e Teoria da Administração, estava acontecendo todo<br />

aquele processo na América Latina. Vivíamos uma espécie de ascensão das forças de<br />

esquerda no Chile, que se contrapunham com a ascensão da direita no Brasil. Também o<br />

pessoal que tinha me recomendado para o Chile, da CEPAL, estava na Bolívia,<br />

assessorando o presidente Barrientos. Nós nos correspondíamos sobre a situação, e em um<br />

certo momento, eles foram expulsos da Bolívia. Aí foi aquela crise política na Bolívia, na<br />

ONU, e eu senti isto como uma espécie de confirmação da minha suspeita de que não era<br />

como economista que eu poderia, eventualmente, contribuir para qualquer tipo de<br />

transformação na América Latina. Eu já tinha tido alguma participação política, estava<br />

engajado na idéia de transformar a sociedade, a América Latina. Como, paralelamente, eu<br />

recebia no Chile muitos trabalhos do pessoal daqui de São Paulo, do grupo do Florestan,<br />

comecei a me interessar muito pela análise sociológica e política do desenvolvimento.<br />

Eram análises sobre a situação de golpe no Brasil, principalmente sobre a situação prérevolucionária<br />

que cada vez mais me atraiam. A partir de um certo momento veio a virada.<br />

Resolvi fazer Ciências Sociais. E as Ciências Sociais que eu queria eram aa que se faziam<br />

em São Paulo. Em vez de retornar a Porto Alegre, vim direto para São Paulo. Preparei-me<br />

para o vestibular, e consegui passar em 1967. Foi uma opção que teve um componente<br />

intelectual e político. Foi curso ótimo, embora muito conturbado, porque vivíamos em uma<br />

época muito agitada; as invasões, a pressão, a transferência da Maria Antônia para a<br />

Cidade Universitária. Eu vivi intensamente este tempo, dividido sempre entre estudar e<br />

fazer política.<br />

Quais foram os professores mais marcantes na graduação?<br />

Em 1967, tive um primeiro ano muito interessante. A figura mais importante era o Luiz<br />

Pereira que deu um curso maravilhoso de Sociologia. Embora as pessoas reclamassem, eu<br />

adorava. Estudávamos, no primeiro semestre, O Homem. e a Sociedade, a coletânea do<br />

Fernando Henrique e do Octávio Ianni. No segundo ano estudava Durkheim, Hans<br />

Frayer(?). Luiz Pereira era um excelente professor, embora o curso fosse muito difícil. Os<br />

alunos de 17, 18 anos achavam que sua aula fosse trote. Ela começava discutindo o texto<br />

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