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CONVERSAS COM SOCIÓLOGOS BRASILEIROS ... - GV Pesquisa

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sobre práxis de Sartre. Eu, por sorte, já era mais maduro, tinha tido dois anos de nível<br />

universitário, conhecia a Questão do Método, Lucien Goldman, etc. Saí feliz da aula, e o<br />

pessoal achava que era trote! Luiz era um baixinho, magrinho, falava rápido e tinha uma<br />

aparência muito jovem. Tive maior contato com o Luiz, no segundo ano da faculdade,<br />

quando surgiu uma pesquisa financiada pelo governo do Estado de São Paulo sobre as<br />

populações marginais e me convidaram para ser chefe de campo de uma das equipes. Fui<br />

para o Vale da Ribeira. A pesquisa enfocava as populações marginais do interior, e como<br />

Luiz tinha um texto sobre marginalidade, ele foi convidado como consultor. Conheci a<br />

literatura sobre a região, li um texto do Instituto de Economia Agrícola sobre os bóias frias<br />

e fiquei encantado, já pensando em fazer um estudo sobre eles. Então, perguntei ao Luiz<br />

Pereira se ele me aceitava como orientando, e ele me disse como se fazia um projeto. A<br />

gente não tinha treinamento nenhum. Fiquei dois anos fazendo esta pesquisa sobre os bóiasfrias<br />

em Jaú, com bolsa da FAPESP. Mas, eu estava insatisfeito. Quando fazia a história de<br />

vida dos bóias-frias, eles me contavam todo tipo de relação que tinham nas velhas fazendas,<br />

antes de se tornarem bóias frias. A complicação das relações era imensa. Eram relações<br />

cruzadas deles entre si e com os fazendeiros. É bom lembrar que estávamos em um<br />

momento em que se discutia intensivamente, do ponto de vista teórico, a questão do<br />

feudalismo. Havia a polarização entre Caio Prado, Alberto Passos Guimarães, Nelson<br />

Werneck Sodré. Aquilo me deixava muito instigado porque ao longo do curso de graduação<br />

adquiri formação marxista bastante intensa. Eu acabei lendo O Capital, o primeiro volume<br />

inteiro, o que era, para mim, intelectualmente muito instigante. Com estas leituras e o que<br />

vi no campo, meu interesse mudou. Queria entender como o capital penetrou na<br />

cafeicultura. Como destrinchar este fenômeno muito complexo que foi o colonato no café.<br />

O Luiz era sempre uma pessoa muito rígida, mas, quando se mostrava algo consistente, ele<br />

não nos impedia. Assim, comecei a trabalhar loucamente nesse tema.<br />

O Luiz acabou influenciando um grupo de pessoas que foram para a questão agrária que<br />

era a questão política da época, não?<br />

Basicamente, o foco do trabalho do Luiz era desenvolvimento, que, na verdade, era um<br />

desdobramento do projeto do Florestan. Ele já tinha publicado seu trabalho sobre<br />

desenvolvimento, em 1965, e estava impactado pelo Althusser, quando eu comecei a pósgraduação.<br />

Na verdade, tínhamos vários debates: a agenda CEPAL e debate sobre o<br />

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