18.04.2013 Views

CONVERSAS COM SOCIÓLOGOS BRASILEIROS ... - GV Pesquisa

CONVERSAS COM SOCIÓLOGOS BRASILEIROS ... - GV Pesquisa

CONVERSAS COM SOCIÓLOGOS BRASILEIROS ... - GV Pesquisa

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

universidade e estando na militância, ele era trotskista. Falando com Sacchetta este o<br />

aconselhou a se afastar pois a militância estava atrapalhando sua vida acadêmica. Assim,<br />

enquanto foi professor na universidade, ele nunca fez sociologia partidária. Essa é uma<br />

dificuldade para todos em relação ao Fernando Henrique também. Quando ele diz,<br />

esqueçam o que escrevi, não é para esquecer a sociologia dele, mas, não julga-lo como<br />

presidente da República a partir das análises sociológicas que ele fez. Porque o poder de<br />

análise do sociólogo é um, e o poder de decisão de um governante é outro.<br />

Você foi assessor especial dele no final do mandato?<br />

Assessor especial para a questão da escravidão e coordenei no Ministério da Justiça, a<br />

comissão que produziu o Plano Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo que foi<br />

entregue ao Lula.<br />

O intelectual na política é um ator privilegiado em relação a outros atores políticos?<br />

Eu não acredito. Eu acho que o intelectual na política não é necessariamente um ator<br />

privilegiado, talvez ele sofra mais do que os outros, porque ele consegue perceber<br />

exatamente o que está acontecendo. . O intelectual é alguém que vai se sentir muito<br />

limitado pois na política tem que dialogar... O livro O Presidente visto pelo Sociólogo é<br />

interessante, porque Fernando Henrique faz uma coisa difícil. É um exercício de alteridade<br />

em relação a ele mesmo, quer dizer, ele começa a pensar o governo não como governo mas<br />

como pesquisador. É um exercício interessante, ele pode ver o poder como uma entidade.<br />

De fato é, quem passa por lá, “passa por lá”. Você é obrigado a cumprir as funções que ela<br />

impõe. Você pode mudar aqui ali, pode mudar a cor, o estilo. Ele mostra claramente uma<br />

agudíssima consciência de qual era a trama, qual eram as dificuldades, os caminhos<br />

possíveis que não aqueles necessariamente nos quais ele e outros grupos acreditavam. No<br />

entanto, não havia muito o que fazer.<br />

No Brasil temos um certo protagonismo dos intelectuais na política. Por exemplo,<br />

Alberto Torres, Oliveira Vianna..<br />

De fato essa gente não conseguiu fazer grandes mudanças. A história política do Brasil é<br />

uma história sistemática do poder do atraso. Quer dizer, vence o menos intelectual que tem<br />

menos clareza sobre o processo. A abolição da escravatura foi isto. A questão da reforma<br />

agrária que qualquer país minimamente lúcido faria sem criar drama, aqui se transforma<br />

53

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!