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CONVERSAS COM SOCIÓLOGOS BRASILEIROS ... - GV Pesquisa

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ENTREVISTA <strong>SOCIÓLOGOS</strong><br />

Renato Ortiz<br />

Fale sobre sua trajetória pessoal, tendo como eixo a formação intelectual, profissional.<br />

Não é muito fácil falar de si mesmo, é mais simples falarmos genericamente das idéias.<br />

Uma pergunta que faço é como fui tornar-me um intelectual? Na verdade, não tive uma<br />

educação nessa direção, tampouco para trabalhar com as humanidades. Fui criado no<br />

interior de São Paulo numa família classe média na qual a cultura nunca foi um valor<br />

maior. Meu avô materno era marceneiro. Minha avó, uma mulata de Cravinhos, semialfabetizada,<br />

fato que a família sempre procurou, de alguma forma, ocultar. Apesar de ter<br />

nascido em Ribeirão Preto passei minha infância, até os 13 anos, em Taubaté. Minha mãe<br />

era professora de Educação Física, meu pai comerciante, representante de produtos<br />

diversos: farinha, fósforos, banha. Viajava pelo Vale do Paraíba oferecendo aos bares e<br />

armazéns as mercadorias dos outros. Em casa nunca houve um ambiente cultural mais<br />

sofisticicado, embora, todas minhas tias tivessem estudado. Meu pai não terminou ou<br />

ginásio, mas minha mãe completou inclusive o terceiro grau, fez um curso de<br />

especialização em Educação Física, o que lhe permitiu dar aulas na escola secundária.<br />

Passei a infância em Taubaté e com 14 anos de idade mudei-me para Ribeirão Preto, onde<br />

completei os estudos ginasiais. Meu pai já havia falecido, eu era menino, tinha 8 anos de<br />

idade. Fiquei apenas um ano em Ribeirão Preto pois minha mãe decidiu colocar-me na<br />

escola agrária em Pirassununga. Para ela isso era uma forma de garantir ao filho uma<br />

profissão técnica. Cursei o Instituto de Zootecnia e Indústrias Pecuárias no qual morava em<br />

regime de internato. Vivi na fazenda por três anos e por fim obtive o diploma de técnico em<br />

Laticínios. Aprendi a fazer iogurte, queijo, cuidar do gado, coisas assim. Minha mãe, como<br />

toda a família, foi movida pela idéia da segurança, caso eu tivesse algum problema em<br />

entrar na faculdade teria o futuro assegurado com uma profissão. Evidentemente, sua<br />

estratégia não funcionou muito bem, adaptei-me mal à vida campestre e ao sair de<br />

Pirassununga decidi seguir carreira de Engenharia. Vim para São Paulo, fiz cursinho e<br />

entrei na Escola Politécnica em 1966, ano em que minha mãe veio a falecer. Permaneci<br />

quatro anos na Escola Politécnica, foi quando decidi a não prestar os exames finais e<br />

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