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CONVERSAS COM SOCIÓLOGOS BRASILEIROS ... - GV Pesquisa

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tiver uma consciência da neutralidade ética, se não se vai lá para doutrinar. Esta é a<br />

diferença, por exemplo, dos agentes que vieram depois nas atividades da CPT.<br />

Você acha que ainda há lugar para a crítica?<br />

É, este é o meu dilema no momento, porque eu continuo tentando atuar. Acho que sou um<br />

sociólogo crítico. Não quero vender meu peixe para ninguém, não quero influenciar o<br />

pensamento de ninguém, nunca fiz isto com meus alunos. Nunca fiz isto com,<br />

absolutamente, ninguém, nem neste trabalho de educação popular. Nunca me atrevi,<br />

embora fosse o terreno propício para fazer este tipo de coisa. O importante é comunicar o<br />

que eu sei, e a crítica que faço ao modo de saber que utilizo para saber. Eu acho que aí está<br />

a semente desta reflexão crítica1 Isto está acontecendo, cada vez menos, porque a<br />

Sociologia está se transformando, cada vez mais, na ciência da certeza. O pensamento<br />

crítico só pode existir no âmbito da incerteza. Você sabe o que está pensando, mas, abre o<br />

caminho para uma duvido a respeito do que está pensado, porque o processo no qual se está<br />

produzindo o pensamento altera o pensamento e as condições do pensamento. Então, não se<br />

pode fechar certeza, mas, também não se pode fechar incerteza. Tem-se de ter o rumo<br />

metodológico claramente definido. Acho que isto está desaparecendo no Brasil.<br />

O projeto da cadeira de Sociologia de Florestan era repensar a teoria, e isto estava<br />

associado ao desenvolvimento do próprio curso Com as cassações o projeto deixou de ser<br />

coletivo e cada um teve de trabalhar individualmente?.<br />

O projeto, de certa maneira continuou. O projeto tinha, para nós, como referência<br />

Economia e Sociedade no Brasil, do Florestan. Era isto que sintetizava os termos básicos<br />

do diálogo. Quando eu, mesmo com as cassações, fiz o projeto para o Vale do Paraíba, era<br />

um projeto integralmente montado nisso. E nós continuamos, durante anos, naquele rumo.<br />

Não se tratava de ficar repetindo, mas de buscar um rumo fecundo. Os trabalhos de Ianni,<br />

Fernando Henrique, Maria Alice marcavam também a direção de nossas pesquisas. Não<br />

necessariamente para seguir aquela linha, mas, o tom é dado por aquela linha de trabalho de<br />

investigação. De modo que tudo isto nos levou a uma enorme frustração, que foi ter<br />

trabalhado durante anos à espera do reatamento do vínculo com os professores cassados, e<br />

na hora da anistia eles não voltaram. E não voltaram porque eles não quiseram. Eu me senti<br />

traído, como muitos de nós aqui dentro. Mas eu compreendo que a situação era outra. A<br />

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