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CONVERSAS COM SOCIÓLOGOS BRASILEIROS ... - GV Pesquisa

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isto cria. Tome-se o trânsito, por exemplo, cria-se uma legislação feroz para punir o<br />

motorista que ultrapassa a velocidade. Mas, não se dá o mínimo para o estado das vias<br />

públicas, dos veículos, não se controla o esquema de segurança. O Brasil é um país em que<br />

durante algumas décadas fabricaram-se automóveis sem apoio de cabeça no assento,<br />

quando isto é notoriamente mortal. Mas, como não há uma lei para isto, as pessoas não se<br />

importavam porque não se importa muito para o bem estar coletivo. Deve ser um país<br />

especialmente perverso (?). Eu fico irado, e penso em ir embora daqui, aí eu imagino como<br />

estão as coisas lá fora.<br />

Houve algum episódio pitoresco ou até mesmo traumático na sua graduação, ou na pós,<br />

algum episódio em que você tenha ficado estarrecido, do ponto de vista positivo ou<br />

negativo?<br />

De positivo, tive a chance de ter vivido um momento em que se articulava de uma maneira,<br />

talvez única, as grandes questões externas à universidade com as internas. Isto realmente<br />

criava uma atmosfera muito peculiar. Não se tinha o hiato brutal que se instalou depois, e<br />

que ainda persiste hoje, o hiato entre as atividades estudantis e as grandes inquietações<br />

externas. A minha grande referência foi o Ianni, mas tive excelentes mestres. Eu nunca fui<br />

aluno do Florestan, nunca deu certo. Ele tinha hábitos curiosos. Chegava e espetava a sua<br />

barriga com o dedão. Uma grande figura. Aliás, é curioso este nível de relacionamento que<br />

havia naquele período. Criou-se o germe de algo que acho muito simpático, de<br />

informalidade e de muito respeito. Claro, ninguém chamaria o Florestan de você. Todos o<br />

chamavam de professor ou senhor, até o Fernando Henrique. A escola era pequena e<br />

permitia que estudantes conhecessem bem os professores e vice-versa. As coisas mais<br />

malucas aconteciam. Uma vez, estava Ianni caminhando na rua Maria Antônia e vem<br />

correndo atrás dele um cidadão gorduchinho. “Oi Ianni espera aí. Eu queria te dar meu<br />

livro, que foi minha tese”. “Quem é este”, perguntaram? “É um cara da economia. Parece<br />

bom. Mas, ele não vai longe não”. Era o Delfim. Ele achava que o Delfim Neto não estava<br />

com nada.<br />

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