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CONVERSAS COM SOCIÓLOGOS BRASILEIROS ... - GV Pesquisa

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Procópio. Eu trabalhei com o Cândido na Sociologia, na História da Religião, da Abril<br />

Cultural, durante um ano. Tinha de fazer uma Religião por mês, fascículos. A edição era<br />

linda. Foi um fracasso de público, porque eles só contrataram ateus para fazer a<br />

enciclopédia. Tinha de ler uma imensa bibliografia, levava um texto de quarenta laudas,<br />

passava pelo Procópio, pela Beatriz Souza e mandavam fazer isto, aquilo. Depois,<br />

mandavam para a Abril e ela fazia a formatação final.. Eles me pagavam razoável. Por<br />

incrível que pareça eu consegui viver disto um bom tempo em São Paulo. Eles me pagavam<br />

religiosamente.Isto deve ser em 1972, 73. Aí, Estevão me apresenta a Weffort, no<br />

botequim. Em quinze minutos eu estava aceito no doutorado da USP. No dia seguinte, o<br />

Weffort me conseguiu a bolsa para doutorado na FAPESP. Fernando e Weffort são destas<br />

pessoas que eu não me esqueço. Estevão, nem falar, era meu irmão. Mas, Fernando e<br />

Weffort, eles fizeram isto comigo e com dezenas. Eu sou um caso, sou apenas um caso. Eu<br />

vi eles fazerem depois, com outras pessoas. Na época, eram dois jovens. O grupo do<br />

Wefort ficava dentro do CEBRAP, na mesma sala, eu, Maria Hermínia, José Álvaro,<br />

Moisés e Regis de Andrade. Todos estudando sindicalismo. Na pós-graduação da USP eu já<br />

chego com um tema diferente. Weffort não tinha lido Gramsci, eu chego com Gramsci.<br />

Weffort se interessa por aquilo.<br />

E você leu Gramsci a partir do Partido do Comunista?<br />

A partir do Partido. Olha, a primeira vez que eu ouvi referência a Gramsci foi de um<br />

militante do Partido Comunista, negro, de origem favelada, aqui do Rio. Dos intelectuais<br />

mais finos que eu conheci na minha vida. Morreu louco. Viveu na clandestinidade todo o<br />

tempo. Não sei o que houve com ele na clandestinidade que ele não agüentou. Mas, este<br />

homem mobilizava Gramsci em intervenções no interior do Partido. A gente não conhecia,<br />

nunca tinha visto. Depois, quem introduz Gramsci aqui foi o Leandro, o Carlos Nelson<br />

Coutinho, na Civilização Brasileira, em 1978. E foi o Ênio Silveira que bancou aquilo que,<br />

de início não vendia nada. Algum tempo depois, entrava-se na livraria e comprava-se o<br />

Gramsci por quilo. Foi estourar depois. Quando o tema da política vem de volta com a<br />

abertura, com a transição. Todas as categorias do Gramsci se tornam muito atuais. Tornamse<br />

como se viu dominante para os intelectuais brasileiros que participaram da transição(?),<br />

apropriado pela direita, pela esquerda. E logo depois entra na Universidade, especialmente,<br />

no Serviço Social, na Pedagogia e do jeito que se sabe que foi apropriado lá.<br />

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