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CONVERSAS COM SOCIÓLOGOS BRASILEIROS ... - GV Pesquisa

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Sim. Em Minas a gente lia de tudo. A ansiedade de superar uma certa condição de<br />

isolamento nos levava a ler tudo. Mas, minha formação foi fortemente weberiana. Não<br />

líamos comentaristas, mas o próprio Weber. Eu tinha um professor que, no segundo ano de<br />

Faculdade, nos mandava ler 100 páginas do Economia e Sociedade por semana. Eu lia, mas<br />

a verdade é que entendia pouco. De qualquer forma, o que me marcou destas leituras é que<br />

Weber concebia o determinismo econômico apenas como um tipo ideal. Assim, na Ética<br />

Protestante ele diz claramente que se um “certo autor” tomasse a interpretação<br />

economicista da história como uma estilização, como um tipo ideal, ele estaria plenamente<br />

de acordo. Weber estava naturalmente falando de Marx sem citá-lo. Eu achava esta idéia<br />

muito interessante: na verdade, tudo pode ser estilizado e assim podemos ir compondo uma<br />

realidade, uma interpretação dela. A partir deste momento eu compreendi que Weber era<br />

muito útil para o cientista social, porque relativizava Marx. Eu via um problema com<br />

Marx.. Isto é, eu me perguntava: se ele já fez a teoria, se já chegou ao conhecimento do<br />

real, então só nos resta aplicar a teoria?. Mais ainda, cada vez que eu tentasse aplicar sua<br />

teoria, tinha de saber se era fiel a ele, se minha leitura de Marx era correta. Além disso,<br />

havia sempre alguém que dizia que Marx tinha sido mal traduzido, que não era isso que<br />

aparecia no original.<br />

Queria retomar a questão do cientista e do intelectual. Como você vê hoje o papel do<br />

intelectual, do cientista social no Brasil?<br />

Eu concordo muito com a tese da Mariza Peirano que sustentou que intelectual brasileiro<br />

se sentia comprometido com o projeto nacional. Acho que para o desenvolvimento da<br />

Ciência seria melhor que as coisas fossem um pouco mais separadas. E quando o intelectual<br />

fizesse a opção para colaborar com o projeto político, isto não se confundisse com sua<br />

inserção na academia. Acho que ainda temos uma Ciência Social muito politizada. Acho<br />

que a tendência é diminuir, porque já não é a mesma coisa que era a 20, 30 anos atrás, mas,<br />

ainda é forte. Muitos de nossos alunos querem ouvir confirmação de uma verdade que eles<br />

já têm. Do ponto de vista ético e moral acho muito saudável. Por outro lado, do ponto de<br />

vista de avanço do conhecimento, acho que muitas vezes é problemático. Se tivéssemos um<br />

pouquinho mais de institucionalização da ciência como prática profissional autônoma,<br />

talvez, conseguíssemos mais sucesso na formação profissional. Muita gente diz que a<br />

gente só faz aplicar teoria estrangeira. Se isto é em parte verdade, não é só por alguma<br />

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