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CONVERSAS COM SOCIÓLOGOS BRASILEIROS ... - GV Pesquisa

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Foi isto que você fez com os artigos do Pasquim?<br />

Sim, uma análise de conteúdo. Mas tenho minhas restrições em relação à ela, a análise<br />

estruturalista é interessante mas tem um calcanhar de Aquiles, a ausência da história.<br />

Mesmo assim o trabalho despertou-me para uma série de leituras que ajudaram muito<br />

minha educação intelectual. Posteriormente, dei seqüência aos estudos na École mas,<br />

agora, noutro laboratório, no qual se encontrava Roger Bastide, a quem apresentei a<br />

proposta para estudar a Umbanda. Mas, aí, já num contexto diferente, pois havia terminado<br />

a graduação e o mémoire. Por causa da ditadura militar não queria voltar ao Brasil, resolvi<br />

aproveitar o que a França me oferecia. Apesar da minha condição ser bastante difícil do<br />

ponto de vista material, valia a pena. Isto foi em 1973.<br />

Você teve aula com Morin?<br />

Tive, fiz a tese com ele. Naquela época Morin estava na onda da contracultura e era bem<br />

visto pelos movimentos de contestação. Segui também alguns cursos de Barthes. Quando<br />

decidi trabalhar com Bastide mudei a orientação de meus estudos. Primeiro tratava-se de<br />

um doutorado, a exigência era maior, segundo, tomei contato com um conjunto de autores e<br />

de textos que desconhecia. Tive uma boa formação em Vincennes, li Marx com seriedade e<br />

afinco, além dos cursos que fiz sobre Max Weber. Porém, Durkheim era pouco lido,<br />

considerado conservador demais.<br />

Como você se aproximou de Bastide?<br />

Foi muito simples. Tenho a impressão de que na França esses contatos são favorecidos.<br />

Não é muito complicado aproximar-se de um professor e propor um projeto de pesquisa, o<br />

difícil é convencê-lo a aceitar a proposta. No caso específico, fiz a leitura de um conjunto<br />

de livros escritos por umbandistas, publicações populares que se vendem nas lojas de<br />

umbanda. Formulei um projeto do que viria a ser o livro A Morte Branca do Feiticeiro<br />

Negro. Pareceu-me natural procurar alguém que tivesse tratado do tema, no caso Bastide.<br />

No momento de preparação do projeto eu havia lido vários de seus livros sobre religiões<br />

africanas. Fui procurá-lo. Embora já estivesse aposentado aceitou-me como orientando.<br />

Tive uma ótima relação com ele e uma empatia muito grande nasceu entre nós. Fiquei<br />

fascinado com aquele um homem do Século XIX. Ele estava com a idade avançada, havia<br />

lutado na Primeira Grande Guerra, e, portanto, tinha sido formado no final do breve Século<br />

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