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CONVERSAS COM SOCIÓLOGOS BRASILEIROS ... - GV Pesquisa

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Faculdade era muito diferente. Era outra história. Mudou muito, mudou o público,<br />

mudaram os estudantes, mudaram os professores. Aquele clima de formalidade, de respeito<br />

que havia pela Cátedra, se perdeu com o fim da Cátedra e as cassações. Criou-se uma geléia<br />

geral, acadêmica, que acho que foi fatal para todos nós. A partir daí ficou claro que cada<br />

um faria o que bem entendesse. De fato, o grupo acabou com a anistia.<br />

O Florestan no primeiro prefácio da Sociologia em uma Era de Revolução Social havia<br />

definido o que entendia como tarefa da Sociologia.No prefácio da segunda edição, a<br />

frustração aparece. Ele diz não ter mais o que fazer. Deixou para as outras gerações.<br />

Assim, idéia de inteligentsia é central, neste projeto das Ciências Sóciais, é isto um dos<br />

pontos que torna diferente o curso de Ciências Sociais da USP do momento antes de<br />

68.Ainda é possível o mesmo projeto?<br />

Precisa ver também que política nós temos. Eu acho que é mais necessário hoje do que era<br />

na época em que o Florestan se orientava por esta perspectiva. Se não for por aí as Ciências<br />

Sociais acabam no Brasil, porque passaremos a fazer ideologia e não Ciências Sociais. É o<br />

que está acontecendo. Peguem um jovem que está fazendo o mestrado ou o doutorado<br />

agora, quando eles escolhem um tema mais politizado como reforma agrária, a situação<br />

agrária e tal, raramente salta alguma coisa. Temos discursos muito articulados, mas, é quase<br />

sempre em algo que resvala perigosamente para uma ideologia pura. Ou seja, justificativa,<br />

sem razão de ser, dos supostos protagonistas do processo. Eu acho sim, que o Brasil precisa<br />

de uma intelligentsia. Acho que, assim como os castrati, antigos cantores pagavam o preço<br />

de terem a sua voz específica valorizada, a situação vale também para os intelectuais. Acho<br />

que não dá para ser um professor, sobretudo na área de humanas, e ao mesmo tempo ser um<br />

enraivecido militante ideológico de partido, qualquer que seja ele, de direita ou de<br />

esquerda, não importa. Porque o conhecimento que se produz a partir daí não vale nada.<br />

Serve só para engrossar as vaidades pessoais, mas, de fato, não esclarece coisíssima<br />

nenhuma. Nós não estamos entendendo hoje, o Brasil, mais do entendíamos há quarenta<br />

anos atrás, no que diz respeito a certos temas. A questão agrária, por exemplo, porque se<br />

produziu muito mas a metade disto provavelmente não se salva porque é puramente<br />

ideológico. Isto vale para a Sociologia e para as Ciências Sociais vizinhas. Há trabalhos<br />

mergulhados em uma justificativa alucinada de tudo que o MST faz. O MST não precisa de<br />

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