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CONVERSAS COM SOCIÓLOGOS BRASILEIROS ... - GV Pesquisa

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influência na trajetória brilhante do Brasílio, que foi meu colega de curso. Ele tinha uma<br />

experiência universitária antes, tendo estudado no Chile. O Luiz Pereira foi uma figura de<br />

quem eu tinha pânico. Para começar tive um problema com ele de saída, porque eu fiquei<br />

tão nervosa no dia da prova que tive uma crise de bronquite, como a prova do noturno não<br />

tinha acontecido eu fui pedir para fazer a do noturno. Quando cheguei, nem sei se já tinha<br />

18 anos, eu lhe disse: “professor eu queria falar com o senhor, perdi a prova do diurno, e<br />

queria saber se podia fazer a do noturno”. Ele começou a gritar comigo e dizia: “saia da<br />

minha sala. Eu já sou livre-docente e já tenho 39 anos, portanto, não falo com uma menina<br />

como você!” Eu tive de repetir o curso no ano seguinte porque não tive coragem de desafiálo.<br />

Então, eu achava aquilo horrível. Naquele primeiro momento muito poucas pessoas me<br />

marcaram. Eu diria que no meu primeiro ano não senti nada de marcante no curso de<br />

Ciências Sociais. Achei que tinha feito a maior bobagem da minha vida, embora isto não<br />

fosse muito consciente. Eu tive, isto sim, uma grande impressão, assim que entrei, do curso<br />

do Fernando Novais, de História, um curso sobre revolução francesa. Eu brinco com ele até<br />

hoje. Eu digo que a primeira aula eu nunca entendi, era História e Revolução. Mas, fiquei<br />

quieta, imagine se a gente ousava qualquer coisa! Porque História era Revolução. Eu não<br />

entendi nada, só entendi as palavras! Naquele primeiro ano, ninguém foi uma figura muito<br />

importante para mim. Acho que, a partir do segundo ano, algumas coisas começaram a<br />

acontecer. Eu continuei sendo aluna de Luiz Pereira até o último ano, porque entrei em um<br />

momento em que os antigos professores foram aposentados, outros viraram os herdeiros<br />

daquela tradição. Era o domínio da Cadeira de Sociologia I, então, tudo parecia ilegítimo se<br />

não fosse Sociologia I. Eu nunca fiz um curso da Maria Isaura Pereira de Queirós, por<br />

exemplo, porque, imaginem se fazia isto! Era uma coisa secundária! O Rui Coelho era um<br />

nefelibata. No segundo ano, tive contato com o professor Rui Coelho, mas, mesmo assim,<br />

não me permiti absorver o que nos dava, porque, para mim, o legítimo mesmo era a<br />

herança da Sociologia I.Assim, no segundo ano comecei a sentir melhor o que era fazer<br />

Ciências Sociais. Para mim, uma coisa era certa, eu queria ser socióloga, queria fazer<br />

Sociologia. Antropologia não me atraia. Tinha a sensação de que Antropologia só tratava<br />

dos detalhes da vida social. Imaginem, logo eu que sou perseguida pelos detalhes? Mas,<br />

como era muito politizada, queria respostas, queria fazer a revolução, e achava que só<br />

Sociologia dava elementos para isso. Quanto à Ciência Política, tive primeiramente aula<br />

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