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CONVERSAS COM SOCIÓLOGOS BRASILEIROS ... - GV Pesquisa

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Na verdade, dizem que ele gostaria de ser governador e foi colocado em segundo lugar.<br />

Sim, e de qualquer forma ele era bastante identificado com a ditadura. Da mesma maneira que<br />

com o integralismo, eu tinha uma curiosidade sociológica ao estudar Gilberto Freyre. Era uma<br />

curiosidade de outra ordem, pois tratava-se de um autor que, por um lado, era execrado por parte<br />

significativa da esquerda – e sendo de esquerda desde os 16 anos, eu estava vinculado a essa<br />

posição. Por outro lado, ele era um autor tratado como relevante, extraordinário mesmo, por<br />

intelectuais extremamente respeitáveis, inclusive no exterior, como Lucien Febvre e Fernand<br />

Braudel. Ambos haviam prefaciado Casa-Grande & Senzala, Febvre a edição francesa e Braudel<br />

a italiana. Alguns importantes intelectuais brasileiros também o tinham em alta conta. Assim, eu<br />

tinha certa curiosidade em tentar enfrentar esta esfinge. Imaginei, primeiro, uma abordagem<br />

indireta, considerando a hipótese de fazer uma análise comparativa de Gilberto com Afonso<br />

Arinos e com Sérgio Buarque de Holanda. Mais tarde, pensei em deixar de lado as obras<br />

sociológicas clássicas do Gilberto para me concentrar nos seus livros mais confessionais, e, só<br />

então, esboçar uma comparação com Afonso Arinos, que tem uma série de obras com este perfil.<br />

Levantei, inclusive, a hipótese de incorporar Mário de Andrade e estabelecer um contraste entre<br />

esses diferentes autores, examinando a maneira pela qual cada um deles elabora sua<br />

subjetividade. Contudo, não pude deixar de levar em conta o diálogo com o meu orientador,<br />

Otávio Velho: creio que ele nunca me disse isto com todas as letras, mas sempre me estimulou a<br />

que, antes de mais nada, privilegiasse o estudo da obra sociológica de Gilberto, o que significava<br />

ter contato com os textos clássicos: Casa- grande, Sobrados e mucambos. Ele foi me induzindo,<br />

de uma forma extremamente inteligente e elegante, a aprofundar o meu contato com Gilberto.<br />

Resolvi experimentar! Eu já havia lido Casa-grande & senzala na graduação, e o achei<br />

interessante, mas muito confuso. Quando li todo o livro de novo, já no doutorado, achei-o<br />

confusíssimo. Aquela dicção oral de Gilberto, o fato de que ele colava um assunto no outro e não<br />

se sabia direito o que se estava discutindo nem muito menos a direção da sua reflexão, chegava a<br />

deixar-me irritado. Como eu sofria uma forte influência do estruturalismo, com a sua<br />

preocupação com a ordem e a sistematicidade, tropeçava nesse tipo de análise. Lá pela quinta<br />

leitura, porém, pensei: há um ponto curioso, sugestivo mesmo, nesta confusão. Fui percebendo<br />

que a confusão não era o problema. Era, não exatamente a solução, mas, a maneira pela qual ele<br />

encaminhava seu argumento. A minha tendência era sempre a de tentar superar aquela confusão<br />

e encontrar um ponto mais claro e sólido, capaz de articular o conjunto da sua reflexão. Até que,<br />

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