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O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

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Edital Régio <strong>de</strong> 1746. Explica-se a adaptação a novas práticas agrícolas e o abandono <strong>de</strong><br />

culturas como o linho, o trigo e a cevada. Ressalta-se o gran<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> adaptação dos<br />

pioneiros em terras <strong>de</strong>sconhecidas. Transmite-se enfim a idéia <strong>de</strong> uma saga pioneira, o que<br />

certifica o passado heróico dos antepassados; um passado <strong>de</strong> <strong>de</strong>sbravadores, sujeitos<br />

históricos <strong>de</strong> uma epopéia povoadora e colonizadora; esta é uma idéia-força, muito recorrente<br />

em todas as narrativas <strong>de</strong> nação e, sabemos que um mito fundador é um dos elementos<br />

cruciais na <strong>de</strong>finição da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um povo. 23<br />

2. A <strong>de</strong>marcação <strong>de</strong> uma fronteira no mapa multiétnico do Estado. Uma das ênfases do<br />

movimento cultural açorianista é o seu caráter regional. Nos cursos para agentes comunitários<br />

ressalta-se que enquanto os imigrantes alemães e italianos ocuparam os fundos dos vales e<br />

serra acima, os casais povoaram a costa e foram expandindo seus núcleos urbanos entre os<br />

séculos XVIII e XIX. A idéia <strong>de</strong> <strong>de</strong>marcar um território tem aqui uma conotação simbólica e<br />

um efeito político, no sentido <strong>de</strong> <strong>de</strong>finir uma “área cultural”, permitindo um raio <strong>de</strong> atuação,<br />

uma <strong>de</strong>monstração visível do espectro, influencia e manifestação das tradições herdadas dos<br />

pioneiros e que po<strong>de</strong>m ser assim, computadas pelas novas gerações. Isto fica claro em um<br />

dos folhetos do NEA: “O NEA... atua em parceria com mais <strong>de</strong> 40 municípios, várias<br />

universida<strong>de</strong>s regionais e fundações culturais, numa área <strong>de</strong> 15.000 Km2 e tem um público<br />

alvo <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 1 milhão <strong>de</strong> pessoas”. Este é o mapa amplamente divulgado para o ensino<br />

fundamental:<br />

23 Ver o artigo <strong>de</strong> Carvalho (2000) sobre as comemorações dos 500 anos do Brasil Apesar <strong>de</strong> sugerir uma visão<br />

dualista entre historia e memória, o autor indaga sobre o mito fundador da brasilida<strong>de</strong>: “o Brasil começou em<br />

1500, é luso, católico e cordial. O país po<strong>de</strong> ser também isso, mas é também o contrário disso. Por que na<br />

conquista <strong>de</strong> 1500 e não da In<strong>de</strong>pendência em 1822, na abdicação em 1831, na Abolição em 1888?”. O ponto<br />

fundamental é que o esquecimento esta na base do processo <strong>de</strong> imaginação que cria a "comunida<strong>de</strong>". Como<br />

formulação do campo científico-filosófico, o processo <strong>de</strong> esquecimento é exterior ao universo da imaginação<br />

étnica, pois neste, a imaginação não é ilusão, mas a pura verda<strong>de</strong>.

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