O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

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suas diferentes experiências coletivas, articuladas e imaginadas enquanto “comunidades de
coração” (ALMEIDA, 2001:162).
Num terceiro espaço diaspórico -aquele ao qual me referi como um “arraial”, vimos
como, em um espaço de televisão conectado a correios eletrônicos, os imigrantes e
descendentes recriaram formas partilhadas de sociabilidade, domesticando e paroquializando
(no sentido de tornar doméstico ou próximo aquilo que empiricamente está na distância) a
ligação com a terra de origem.Toda a ênfase nestes espaços recaiu na perspectiva de uma
homeland sempre imaginada, re-significada, retornada ou recriada.
Em todos os espaços acima referidos o envolvimento do governo regional açoriano é
bastante direto, na forma de apoios financeiros, promoção de cursos e eventos, patrocínio para
o deslocamento de grupos folclóricos, concessão de prêmios, medalhas de honra para
lideranças imigrantes, etc. Conforme Feldman-Bianco (1992b:168) - cujos trabalhos sobre os
imigrantes portugueses constituem a principal referência da antropologia brasileira na
respectiva área temática-, a açorianidade representa uma tradição inventada pelos políticos e
intelectuais açorianos, tanto das ilhas quanto dos países de acolhimento, com a finalidade de
conquistar mais autonomia em relação às forças centralizadas do governo nacional português.
Neste sentido, a açorianidade seria uma construção cultural pragmática, utilizada para
incorporar as comunidades dispersas de imigrantes e descendentes ao universo de sua
influência, e, ao mesmo tempo, para viabilizar a consecução de interesses regionais do
governo açoriano, como o estabelecimento de acordos internacionais com os Estados Unidos
e a maior influência junto aos altos escalões da política americana.
Em outra direção, procurei distinguir a identidade nacional portuguesa e a identidade
regional açoriana, apoiando-me no plano empírico da construção das respectivas identidades
por parte dos atores sociais envolvidos objetos de minha investigação. Aprofundando a
pesquisa da açorianidade em certos espaços diaspóricos, analisei narrativas que reinventam a