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O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

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terra <strong>de</strong> origem para criar modos <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> uma comunida<strong>de</strong> imaginada, em que os<br />

grupos sentem, partilham e imaginam juntos suas trajetórias <strong>de</strong> vida.<br />

Ainda na dimensão global <strong>de</strong>ste trabalho, gostaria <strong>de</strong> sublinhar um contraponto que<br />

consi<strong>de</strong>ro básico para a pesquisa dos fenômenos i<strong>de</strong>ntitários no mundo contemporâneo. O que<br />

chamamos i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s “híbridas”, “traduzidas” ou “<strong>de</strong>splazadas” constituem formas <strong>de</strong><br />

concepção do self que sintetizam múltiplas alterida<strong>de</strong>s construídas a partir <strong>de</strong> um número<br />

enorme <strong>de</strong> contextos interativos. Estes contextos, expondo os indivíduos a alterida<strong>de</strong>s<br />

diferentes da re<strong>de</strong> <strong>de</strong> relações <strong>de</strong> ego, criam ambigüida<strong>de</strong>s que não <strong>de</strong>vem ser vistas como<br />

resultado dos “azares dos novos contextos sociais e culturais em que estas i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s estão<br />

inseridas” (CARDOSO DE OLIVEIRA, 2000: 12), mas como uma qualida<strong>de</strong> ou vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

engajamento com o outro. Afirmar que as i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s estão em crise, como se fossem elas<br />

entida<strong>de</strong>s imunes aos constantes <strong>de</strong>scentramentos dos lugares <strong>de</strong> fala do sujeito (HALL,<br />

1999), revela uma concepção que imagina um sujeito estável, fixado na sua consciência.<br />

Embora esta questão não seja nova (CARDOSO DE OLIVEIRA ,1976: 79-109; LÉVI-<br />

STRAUSS,1977: 9-11), estando apenas muito mais explicita em face da globalização, o<br />

contraponto ao qual me refiro diz respeito ao que chamo a consciência da dispersão como<br />

referente <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>. No caso <strong>de</strong> grupos <strong>de</strong> imigrantes e diásporas, sabemos que a<br />

experiência histórica <strong>de</strong> dispersão e <strong>de</strong>slocamento tem conseqüências nas formas <strong>de</strong><br />

experimentar o espaço e o tempo entre grupos <strong>de</strong> imigrantes. Significa dizer que à condição<br />

<strong>de</strong> enraizamento local <strong>de</strong> muitas comunida<strong>de</strong>s (on<strong>de</strong> quer se fixem) agrega-se uma espécie <strong>de</strong><br />

consciência <strong>de</strong> dispersão que tem um papel tão importante quanto o primeiro (o do<br />

enraizamento) na geração <strong>de</strong> práticas sociais <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>. A consciência da dispersão produz<br />

uma experiência do tempo simultâneo como condição <strong>de</strong> reconstrução i<strong>de</strong>ntitária, enquanto<br />

novas formas <strong>de</strong> associação, expressão e i<strong>de</strong>ntificação são geradas pelos imigrantes a partir<br />

da distância a um centro simbólico – o povo <strong>de</strong> origem. Esta dispersão permitiria subverter o

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