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O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

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origem localizada no tempo consagra-se com a materialização do conhecimento real dos<br />

Açores, <strong>de</strong> que há mesmo um lugar, uma geografia em que se instala esta consciência perdida<br />

no tempo. Mas tudo isso se dá no contexto imediatamente observável, como em Malaca, on<strong>de</strong><br />

os “Kristang” estão a rivalizar permanentemente com outras etnias. Aqui, em <strong>Santa</strong> <strong>Catarina</strong><br />

esta emulação trata <strong>de</strong> afirmar que enfim, “temos também uma origem”, “somos <strong>de</strong> origem”,<br />

com o mesmo estatuto das etnias dos imigrantes alemães e italianos. Resulta que no chamado<br />

mosaico multiétnico catarinense, a hierarquização das i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>fine-se pelas que são<br />

sociologicamente majoritárias ("alemães", "italianos"), daquelas minoritárias ("afro<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes")<br />

e daquelas outras que têm um estatuto intermediário ("açorianos"). O mosaico<br />

não seria um mapeamento horizontal e cristalizado <strong>de</strong> paisagens étnicas, como pressupõe<br />

Garcia Jr. (op. cit. ) mas uma imagem com tropos altamente hierarquizados. De todo modo as<br />

ambigüida<strong>de</strong>s revestem todos estes processos e indicam a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua análise<br />

contextual e <strong>de</strong> explorar o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminação dos contextos em que se inserem as<br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s categóricas.<br />

Mas há um terceiro caso on<strong>de</strong> as similarida<strong>de</strong>s com o caso açoriano são bem visíveis<br />

nos termos em que venho tratando aqui, isto é, da construção <strong>de</strong> operadores simbólicos para a<br />

aquisição <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s categóricas. Vem da Etnologia e refere-se aos índios do Nor<strong>de</strong>ste<br />

brasileiro. Em uma coletânea <strong>de</strong>dicada ao tema (OLIVEIRA, org., 1999), diversos<br />

pesquisadores, estudaram a emergência <strong>de</strong> novas i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s étnicas indígenas na região<br />

Nor<strong>de</strong>ste do Brasil. Em 1950, a região possuía <strong>de</strong>z etnias e passou a vinte e três em 1994. A<br />

questão importante é que tais “povos novos” se pensam hoje como “originários”,<br />

“autóctones”, contrariando as análises oficiais do Estado tutelar e também da tradição<br />

etnológica até então prevalente (op. cit.:11-19). Tudo começou nos anos 70 a partir <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>mandas por terra e assistência pública. Grupos i<strong>de</strong>ntificados na região como sertanejos,<br />

tidos como índios “misturados”, com pouca distintivida<strong>de</strong> cultural em relação a população

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