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O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

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tempo por meio da criação <strong>de</strong> intervalos na vida social, sendo os ritos e festas interpretados<br />

como modos privilegiados <strong>de</strong> representação <strong>de</strong> uma pulsão dialética entre tempos “sagrados e<br />

profanos”, “ordinários e extraordinários” ou “estruturais e <strong>de</strong> “communitas”. Nestes<br />

intervalos, as posições e comportamentos seriam, ritualmente neutralizados, invertidos ou<br />

reforçados. De todo modo, a relação entre or<strong>de</strong>m social e as categorias tempo-espaço tem<br />

sido freqüentemente rediscutida nas Ciências Sociais (GIDDENS,1984; HARVEY 1989;<br />

RIBEIRO, 2000).<br />

O ensaio clássico <strong>de</strong> Marcel Mauss ([1905]1974) sobre as “Variações Sazoneiras da<br />

Socieda<strong>de</strong> Esquimó” e idéias recentes <strong>de</strong> Arjun Appadurai (1996: 178-199) sobre o significado<br />

contemporâneo da “produção da localida<strong>de</strong>” em um “mundo dramaticamente <strong>de</strong>s-localizado”<br />

fornecem um excelente contraponto. Ambos sugerem o aprofundamento da relação entre<br />

rituais e vida social – um tema clássico - e <strong>de</strong>stas dimensões com a produção simbólica da<br />

localida<strong>de</strong> no mundo globalizado – um tema contemporâneo. O ensaio <strong>de</strong> Mauss po<strong>de</strong> ser<br />

consi<strong>de</strong>rado um trabalho fundador em que, valendo-se <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>scrição sócio-morfológica,<br />

típica do nascente formalismo sociológico da época, acaba por mostrar com gran<strong>de</strong> riqueza <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>talhes como a vida social esquimó, nas suas formas materiais <strong>de</strong> agrupamento, afeta os<br />

diferentes modos <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> coletiva e também as disposições mentais, a religião, a moral, o<br />

direito, <strong>de</strong> acordo com as diferentes estações do ano. Diz Mauss:<br />

O movimento que anima a socieda<strong>de</strong> é sincrônico em relação a vida ambiental<br />

(p.292)... O inverno é a estação em que a socieda<strong>de</strong> fortemente concentrada,<br />

encontra-se num estado crônico <strong>de</strong> efervescência e <strong>de</strong> superativida<strong>de</strong>. Porque os<br />

indivíduos encontram-se mais próximos, as ações e as reações sociais são mais<br />

numerosas ...; as idéias são trocadas, os sentimentos se reforçam...;, o grupo... ocupa<br />

um lugar maior na consciência dos indivíduos. Inversamente, no verão, os vínculos<br />

sociais afrouxam-se..; a vida psíquica se atenua. Há em resumo... um período <strong>de</strong><br />

societarieda<strong>de</strong> intensa e uma fase <strong>de</strong> societarieda<strong>de</strong> lânguida e abatida (p. 321). (trad.<br />

Lamberto Puccinelli).

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