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O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

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Brown ([1940] apud [1952] 1973) e Marcel Mauss ([1905] 1974]), estão hoje revigorados na<br />

agenda teórica das ciências sociais.<br />

Examinando como a jocosida<strong>de</strong> e o dom po<strong>de</strong>riam ser abordados no âmbito das<br />

socieda<strong>de</strong>s complexas, propus que a primeira po<strong>de</strong>ria ser vista, não, como um tipo <strong>de</strong><br />

parentesco, mas como um gênero <strong>de</strong> interação (outro gênero seria, por exemplo, a narração <strong>de</strong><br />

piadas) em que mais atenção é dada aos aspectos performáticos, às diversas modulações <strong>de</strong><br />

contexto, às mudanças <strong>de</strong> enquadre (frame) nas situações <strong>de</strong> fala, sempre levando em conta<br />

cenários etnográficos específicos da socieda<strong>de</strong> em estudo.<br />

Quanto à dádiva, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que Marcel Mauss a reconheceu enquanto sistema <strong>de</strong><br />

obrigações paradoxais - uma espécie <strong>de</strong> lei fundamental da comunicação humana -e que sua<br />

compreensão seria plena se fosse encarada como “fato social total” - o <strong>de</strong>bate sobre<br />

reciprocida<strong>de</strong> e dom tem sido uma constante do pensamento antropológico e sociológico. Este<br />

<strong>de</strong>bate, <strong>de</strong> alta relevância para a teoria antropológica, tem sido, porém, marcado por uma<br />

sedução dualista. Marcados pela idéia-força <strong>de</strong> que há no dom necessariamente uma teoria<br />

da troca que o explica, alguns autores têm se <strong>de</strong>bruçado em avaliações antitéticas, opondo<br />

sistemas e lógicas sociais. A principal <strong>de</strong>las opõe dádiva e mercadoria, como por exemplo em<br />

“gift” e “commodities” (Gregory,1982), “lógica da reciprocida<strong>de</strong> e lógica do mercado”<br />

(Polanyi,1980), “homo donator” e “homo oeconomicus” (Godbout,2002).<br />

Essa sedução dualista po<strong>de</strong>ria ser contornada por aquilo que Caillé (1998) tem<br />

proposto como a investigação do sistema <strong>de</strong> transformações da dádiva. Uma das questões que<br />

levantei é se o dom nada mais seria que um dispositivo social englobado por um mo<strong>de</strong>lo<br />

teórico fundado em uma norma universal <strong>de</strong> reciprocida<strong>de</strong> cujo princípio é a equivalência da<br />

retribuição e a simetria lógica do sistema. Em contraponto a esta abordagem estruturalista do<br />

dom, indaguei se não seria ele um sistema <strong>de</strong> ação baseado na inelutabilida<strong>de</strong> da dívida (não<br />

na liquidação <strong>de</strong>la) e na possibilida<strong>de</strong> (paradoxal) que o doador teria para aumentar a

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