30.10.2014 Views

O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

174<br />

Mais adiante, conclui a autora que não cabe ao antropólogo <strong>de</strong>finir o que são rituais,<br />

algo que será sempre relativo em função da <strong>de</strong>marcação etnográfica. Seu papel é <strong>de</strong>tectar “o<br />

que são e quais são os eventos especiais para os nativos (sejam políticos, o cidadão comum e<br />

até cientistas sociais)” (op. cit., p. 9). Mas o que mais importa reter nas observações <strong>de</strong><br />

Peirano – e aqui para os meus propósitos – é quando ela, vinculando cultura e linguagem, vai<br />

dizer que os atos <strong>de</strong> fala (o dito) e atos rituais (o feito) são “bons para revelar processos<br />

também existentes no dia a dia, para examinar, <strong>de</strong>tectar e confrontar as estruturas<br />

elementares da vida social” (op. cit., p. 29, grifo meu).<br />

É então que voltamos a Simmel e suas formas <strong>de</strong> sociação. Rituais, enquanto eventos<br />

críticos ou eventos comunicacionais <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong>, são bons para pensar formas básicas<br />

<strong>de</strong> sociabilida<strong>de</strong>, na medida que os atores vivem, nos acontecimentos rituais, a experiência <strong>de</strong><br />

seus modos básicos <strong>de</strong> interação, modos tais socialmente significativos e reconhecidos pelo<br />

grupo envolvente. Inspirado na busca das formas simmelianas e na mo<strong>de</strong>rna análise<br />

antropológica dos rituais, imaginei então o que seria fazer – para os meus propósitos <strong>de</strong><br />

pesquisa – uma etnografia das formas <strong>de</strong> sociabilida<strong>de</strong>, através da participação e da<br />

observação <strong>de</strong> eventos rituais socialmente significativos na Ilha <strong>de</strong> <strong>Santa</strong> <strong>Catarina</strong>. Dessa<br />

forma, procurei participar, no campo, daquelas situações etnográficas que se revelam como<br />

fulcros básicos das interações sociais nativas: cerimônias, festejos e procissões religiosas,<br />

festas <strong>de</strong> evocação, folias, reuniões <strong>de</strong> família, ensaios, encenações, comemorações,<br />

conversações espontâneas, situações <strong>de</strong> vizinhança, mobilizações para o trabalho comunitário,<br />

atos <strong>de</strong> reciprocida<strong>de</strong>, performances verbais, situações emblemáticas <strong>de</strong> fornecimento e<br />

pagamento <strong>de</strong> dívidas <strong>de</strong> favor e obrigação, pagamento <strong>de</strong> promessas, “ajutórios”e<br />

“peditórios” 9 , convites, presentes, fofocas etc. Muitas <strong>de</strong>ssas situações foram pesquisadas para<br />

a confecção do capítulo anterior, sobre os ciclos rituais nativos. Neste capítulo, essas mesmas<br />

9 Ver notas 4 e 5 do capitulo 3.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!