30.10.2014 Views

O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

20<br />

quaisquer que sejam suas opções teóricas, provém <strong>de</strong> uma ruptura inicial com qualquer modo<br />

<strong>de</strong> conhecimento abstrato, especulativo ou conjectural, isto é, que não esteja baseado na<br />

observação direta dos comportamentos sociais a partir <strong>de</strong> uma relação humana. Esta assertiva<br />

faz sentido pleno para nós hoje porque na década <strong>de</strong> 20, Bronislaw Malinowsky , opondo-se<br />

à utilização dos materiais etnográficos para invenção <strong>de</strong> supostas linhas evolutivas <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento, sistematizou o uso do método etnográfico chamado <strong>de</strong> “observação<br />

participante” como o único modo <strong>de</strong> conhecimento da alterida<strong>de</strong> cultural que po<strong>de</strong>ria escapar<br />

do etnocentrismo. Tratava-se <strong>de</strong> uma pesquisa intensiva e <strong>de</strong> longa duração em que o etnólogo<br />

partilhava a existência <strong>de</strong> uma população em cuja mentalida<strong>de</strong> ele <strong>de</strong>veria se esforçar para<br />

penetrar, através do aprendizado da língua vernacular e pela observação meticulosa dos fatos<br />

da vida cotidiana. Tratava-se <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r o ponto <strong>de</strong> vista do nativo através <strong>de</strong>ste<br />

procedimento paciente, permitindo com isso que aparecessem progressivamente as<br />

interrelações entre todos os fatos observados e, a partir daí, a <strong>de</strong>finição da cultura do grupo<br />

estudado.<br />

A partir <strong>de</strong>ste método, a Antropologia consolidou seu status <strong>de</strong> disciplina científica,<br />

sendo o antropólogo aquele que legitimava seu texto (a etnografia), evocando a experiência<br />

que teve <strong>de</strong> uma outra cultura. A idéia que legitima o método é a <strong>de</strong> que apenas através da<br />

imersão no universo social e cosmológico <strong>de</strong> outra cultura, o antropólogo po<strong>de</strong> chegar a<br />

compreen<strong>de</strong>-la. O pesquisador profissional, passando por um processo <strong>de</strong> transformação,<br />

tornava-se i<strong>de</strong>almente, um nativo. Mas, se essa transformação é condição essencial para o<br />

conhecimento antropológico, ela não é suficiente. A experiência cotidiana é a-sistemática, e<br />

até que a cultura apareça retratada coerentemente no texto etnográfico vai uma longa<br />

distância. Malinowsky fala sobre isso na Introdução aos Argonautas do Pacífico Oci<strong>de</strong>ntal<br />

(1976[1922]: 23). Do mesmo modo que o antropólogo tem que se transformar ao entrar em<br />

uma outra cultura, ele tem que re-elaborar a sua experiência ao sair <strong>de</strong>la, <strong>de</strong> modo a

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!