30.10.2014 Views

O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

160<br />

como um guia, no sentido <strong>de</strong> como a memória social é continuamente reelaborada pelos<br />

grupos sociais.<br />

3.4 - CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

Nas ativida<strong>de</strong>s coletivas dos ilhéus, tradicionalmente marcadas pela sazonalida<strong>de</strong><br />

entre a roça e a pesca, os tempos sociais pulsam alternativamente: há um “tempo <strong>de</strong> trabalho” e<br />

um “tempo <strong>de</strong> festa”; a época da “política” e a do “choro aos mortos”; o tempo das<br />

“promessas”, e o das “farras do boi”, a “época” da tainha e a da farinhada; o ciclo do<br />

“Divino” ou dos “Ternos <strong>de</strong> Reis” e assim por diante. Com uma <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> sobrevôo,<br />

(preparatória do próximo capitulo), quis sublinhar esta pulsação dos tempos sociais, como um<br />

principio cosmológico, isto é, a idéia do eterno retorno do tempo em ciclos, esta alternância<br />

entre épocas <strong>de</strong> celebração da fertilida<strong>de</strong> (boas safras <strong>de</strong> peixe, farturas da terra) e celebração<br />

da dor (chorar os mortos, encenar a Paixão <strong>de</strong> Cristo); tempos marcados ora pelo chamamento<br />

do santo (festas <strong>de</strong> padroeiro, do Divino), ora pela mobilização do trabalho (a camaradagem da<br />

pesca artesanal da tainha), ou pela folgança e algazarra (folias <strong>de</strong> rua e <strong>de</strong> casa, cantorias, autos<br />

e pantomimas).<br />

Estas observações nos remetem para as categorias <strong>de</strong> tempo e espaço nas ciências<br />

sociais. O estudo <strong>de</strong> como as socieda<strong>de</strong>s representam ritualmente seus tempos e espaços<br />

sociais tem sido uma constante na literatura etnográfica do século XX . Des<strong>de</strong> Durkheim<br />

([1912]1968) e Durkheim e Mauss ([1903] 1971) sabemos que categorias como espaço e<br />

tempo não po<strong>de</strong>m ser naturalizadas porque variam <strong>de</strong> acordo com as socieda<strong>de</strong>s que as<br />

engendram. Também sabemos, com Leach (1974) e Turner (1974), que as socieda<strong>de</strong>s criam o

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!