30.10.2014 Views

O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

121<br />

“pureza” pelas máculas que o processo histórico <strong>de</strong> contato lhe imprimem – a noção <strong>de</strong><br />

etnogenese, na falta <strong>de</strong> melhor termo e malgrado a sua imagem naturalizante, ten<strong>de</strong> a superar<br />

aquilo que Grunewald (id.: 138) chamou <strong>de</strong> “ilusão autóctone”, significando esta, o<br />

pensamento <strong>de</strong> que os “índios” são apenas aqueles que guardam um cultura aborígine. Em<br />

outras palavras, a etnogenese caracterizaria aquele empreendimento que procura conhecer um<br />

<strong>de</strong>terminado grupo em seu processo <strong>de</strong> reinvenção histórica em lugar <strong>de</strong> contabilizar as perdas<br />

<strong>de</strong> uma cultura autóctone. Estaria ancorada ao conceito foucaultiano <strong>de</strong> “genealogia”<br />

(GRUNEWALD, id: 148), como espécie <strong>de</strong> tática <strong>de</strong> ativação <strong>de</strong> saberes locais e<br />

<strong>de</strong>squalificados contra uma instancia teórica unitária que preten<strong>de</strong>ria hierarquiza-los em nome<br />

<strong>de</strong> um conhecimento verda<strong>de</strong>iro ou dos direitos <strong>de</strong> uma ciência (FOUCAULT, 1982:172).<br />

Finalmente, a noção privilegiaria o caráter performativo do discurso i<strong>de</strong>ntitário, na medida em<br />

que procura visualizar as formas adotadas pelo grupo para impor como legitima sua própria<br />

historia. O estudo feito por Grunewald (op. cit.) no Nor<strong>de</strong>ste do Brasil, a propósito do<br />

surgimento dos índios Atikum-Umã como grupo étnico é bastante ilustrativo <strong>de</strong>sta discussão<br />

sobre etnogenese. Para o caso açoriano, consi<strong>de</strong>ro que a <strong>de</strong>scrição feita anteriormente,<br />

indicando como se <strong>de</strong>u o processo <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong>ste grupo - <strong>de</strong> “caboclo indolente” à<br />

“açoriano-<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte” –, mostra como se po<strong>de</strong> pensar nas possibilida<strong>de</strong>s da “etnogenese”<br />

como um recurso metodológico que po<strong>de</strong> ser adotado para <strong>de</strong>screver casos <strong>de</strong> reconstrução<br />

i<strong>de</strong>ntitária ou <strong>de</strong> emergência étnica.<br />

(c ) - O problema da “ambigüida<strong>de</strong>” na análise dos fenômenos i<strong>de</strong>ntitários. Há muito está<br />

claro, nos estudos <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, o seu caráter contrastivo (BARTH, op. cit.; CARDOSO DE<br />

OLIVEIRA, 1976). Sabemos que uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> só se afirma por contraste a outra,<br />

significando que ela só existe e portanto, só po<strong>de</strong>rá ser analisada se houver um “outro” a qual<br />

se refere e do qual po<strong>de</strong>rá o analista, aferi-la. É a famosa metáfora do jogo <strong>de</strong> espelhos.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!