30.10.2014 Views

O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

193<br />

cabelos, dinheiro, velas, fotografias e massa mo<strong>de</strong>lando a parte enferma do corpo, tudo isso<br />

para que aconteça o pequeno milagre da cura.<br />

Finda a missa, uma li<strong>de</strong>rança paroquial prestou contas do peditório. Disse que<br />

arrecadaram R$ 1980,00. Foram <strong>de</strong>stinados R$500,00 para a Freguesia, R$280,00 para a<br />

Caieira, R$700,00 para <strong>de</strong>spesas (<strong>de</strong>coração, pagamentos, almoço) e R$500,00 para a capela<br />

da Costeira. Por último pediu que as pessoas que quisessem receber a ban<strong>de</strong>ira, doravante,<br />

quando ela passasse, abrissem as portas da casas, para sinalizar que querem recebê-la.<br />

Depois fomos ao lado no salão paroquial comer cuca, com café e quentão. Havia<br />

cerca <strong>de</strong> 150 pessoas. Lá <strong>de</strong>ntro alguém me disse que era para eu acreditar no Divino, porque<br />

ele era milagroso. Tudo terminou com a saída do cortejo imperial <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro da capela.<br />

Novamente se acen<strong>de</strong>ram as velas, os foliões levaram o casal e o cortejo até a saída. Muitos<br />

agra<strong>de</strong>cimentos e abraços.<br />

Na ida e na volta, brinca<strong>de</strong>iras jocosas e metáforas sexuais surgiam o tempo todo nas<br />

conversas: “Quem vai segurar o pau [cetro] do Divino?”, “Quem ficou com o pau entre as<br />

pernas?”, “Olha, <strong>de</strong>sse pau eu não largo e a pomba [presa na parte superior do cetro] tem que<br />

estar virada pra frente, porque todos sabem que se isto não ocorrer, alguém vai dizer ‘dá uma<br />

volta no pau e mostra a pomba pra gente’!” O mesmo se <strong>de</strong>u na Festa do Divino do Pântano<br />

do Sul. À noite, em frente à igreja, esperava, com os locais, o casal imperial, que viria em<br />

cortejo motorizado da praia da Armação. Deixei o gravador ligado porque não resisti às<br />

conversas jocosas que por ali circulavam. Diziam: “A minha pomba tá presa em casa e a<br />

tua?”; “Aqui tá cheio <strong>de</strong> pomba solta...”; “Ah, ser imperador dá uma mão <strong>de</strong> obra danada, mas<br />

quem tem dinheiro, quer ser imperador e ainda não gastar nada.”.<br />

Reinava uma intensa jocosida<strong>de</strong> verbal, chegando a impressionar os passantes,<br />

<strong>de</strong>ixando uma ligeira impressão <strong>de</strong> que os nativos estariam brigando, quando estavam se<br />

comunicando inofensivamente com navalhas verbais. De modo que todo o respeito ao santo

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!