O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina
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Amante (1998) e que provocou uma reação a este projeto i<strong>de</strong>ntitário como expresso em<br />
Severino (1999) contra o apagamento da etnia alemã em Itajaí e Mortari (1999) em favor da<br />
co-presença afro-brasileira. Enfim uma historia que oferece material interessante para o<br />
estudo <strong>de</strong> um domínio que po<strong>de</strong>ríamos chamar a construção política <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s étnicoculturais.<br />
Para contar esta história vou recortar um período que vai dos anos 1940 até aos anos<br />
1990, décadas que dataram, respectivamente, o bicentenário e os 250 anos da emigração<br />
açoriana para o sul do Brasil. Em 1948 ocorre em Florianópolis o I Congresso Catarinense <strong>de</strong><br />
História. Seu tema principal eram as comemorações dos 200 anos da colonização açoriana.<br />
Por que este tema? Qual o clima que o prece<strong>de</strong>u? Recolhi este <strong>de</strong>poimento que fica como<br />
registro <strong>de</strong> um dos participantes do Congresso, ainda vivo:<br />
Francisco - Na época o que havia era comemorar o centenário <strong>de</strong> Blumenau, que seria em<br />
1950. Joinville que seria em 1951. Eram coisas que já se conversava em meados dos anos 40.<br />
E você sabe que Florianópolis, no período, durante a Segunda Guerra Mundial até o ano 1962,<br />
viveu um momento <strong>de</strong> parada, um amortecimento <strong>de</strong> seu crescimento e do seu<br />
<strong>de</strong>senvolvimento. Havia um slogan que dizia assim: "Florianópolis, cida<strong>de</strong> que seduz. De dia<br />
falta água, <strong>de</strong> noite falta luz". O porto estava sendo <strong>de</strong>sativado, que era o sustentáculo. Bom,<br />
com isso, resultou num olhar para a colonização alemã; <strong>de</strong> se acirrar, se acentuar o<br />
pensamento <strong>de</strong> que se o Brasil tivesse sido colonizado por alemães e por ingleses, e não por<br />
portugueses, estaria muito melhor <strong>de</strong>senvolvido. Então havia uma espécie <strong>de</strong> complexo <strong>de</strong><br />
inferiorida<strong>de</strong> em Florianópolis. E isso era atribuído a colonização portuguesa, a colonização<br />
açoriana. Ora, a repressão ao grupo alemão aqui em <strong>Santa</strong> <strong>Catarina</strong>, foi realmente algo<br />
fantástico. Talvez não tanto pelo receio <strong>de</strong> que os alemães pu<strong>de</strong>ssem dar apoio ao nazismo e<br />
a penetração do nazismo da Alemanha em todo o Brasil, mas talvez já um pouco essa<br />
<strong>de</strong>scarga social <strong>de</strong> um certo complexo <strong>de</strong> inferiorida<strong>de</strong> daqui <strong>de</strong>ssa região portuguesa sobre os<br />
alemães. Eu atribuo um pouco disso, uma resposta talvez, uma reação. Porque o alemão<br />
<strong>de</strong>bochava <strong>de</strong> nós: são os "barriga ver<strong>de</strong>"; "comedor <strong>de</strong> berbigão"; são tudo uns manezinhos,<br />
são tudo uns amarelo, indolentes, não trabalham; "nós aqui é que produzimos; o alemão é que<br />
produz, é que trabalha. Então isso era freqüente. Comentários até na imprensa. Isso fez mexer<br />
um pouquinho com os brios. E nós tivemos aqui algumas li<strong>de</strong>ranças intelectuais importantes<br />
que procuraram discutir esse problema. Eu citaria Henrique da Silva Fontes, acho que é a<br />
principal personagem; José Arthur Boiteaux, que faleceu pouco antes do Congresso e Lucas<br />
Alexandre Boiteaux. Quando se aproximam esses eventos <strong>de</strong> Blumenau, disseram: - porque<br />
também não realizarmos um evento que estu<strong>de</strong> melhor o que foi a vinda dos açorianos a <strong>Santa</strong><br />
<strong>Catarina</strong>, já que fariam 200 anos?<br />
visão, uma imposição que acaba por realizar o efeito <strong>de</strong> “sentido e o consenso sobre o sentido da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> do<br />
grupo”.