O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

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que refletem apelos, trajetórias, ambigüidades particulares segundo fronteiras grupais
especificas. Por fim, descrevo um terceiro espaço, que chamo “arraial na diáspora em tempo
real”, tratando do modo “paroquial” de apropriação de um programa de televisão, pelos
imigrantes e descendentes espalhados pelo mundo. Na conclusão, forneço uma primeira
qualificação da “diáspora” açoriana, à luz das descrições feitas e de trabalhos recentes sobre o
conceito de diáspora, especialmente no campo da antropologia.
Tentando ir além da percepção clássica do fenômeno diaspórico como um movimento
que se define por dramáticas rupturas e desenraizamentos, trata-se de repensar a noção nos
termos de uma antropologia preocupada com processos culturais globais e com a positividade
da experiência subjetiva do deslocamento e da condição diaspórica. Esta experiência de
deslocamento pode ser capaz de desenvolver uma consciência da dispersão como referente de
identidade, uma “consciência mestiça” como diz Anzaldua (1987:79), que desenvolve uma
tolerância pelas ambigüidades. Voltaremos a este ponto nas considerações finais. Por ora, a
questão é: em que medida, a experiência açoriana pode contribuir nestas discussões?
1.2 – HISTÓRIA E GEOGRAFIA DA DIÁSPORA AÇORIANA
1.2.1 – O Arquipélago dos Açores: características gerais
O Arquipélago dos Açores é um conjunto de nove ilhas, situado cerca de 1500 Km a
Oeste de Lisboa (Fig. 1) São 600 Km de comprimento, com superfície de 2 333 Km2 e
população de 241.763 habitantes de acordo com o último recenseamento (CENSO,2001). As
ilhas são, a saber: Grupo Oriental: Santa Maria (97 Km2- 5.578 hab.), São Miguel (757 Km2
– 131.602 hab); Grupo Central: Terceira (402 Km2 – 55.833 hab), Graciosa (62 Km2 – 4.780
hab), São Jorge (246 Km2 – 9.674 hab), Pico (447 Km2 – 14.806 hab), Faial (173 Km2 –
15.063 hab); Grupo Ocidental: Flores (143 Km2 – 3.995 hab), Corvo (17 Km2 – 425 hab).