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O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

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nacional” (IANNI, 1998). Noções mais ou menos sedimentadas como natureza, socieda<strong>de</strong>,<br />

cultura, i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, tradição, etnia etc, per<strong>de</strong>m o vigor explicativo diante dos múltiplos<br />

movimentos e configurações <strong>de</strong> comportamento entre indivíduos e coletivida<strong>de</strong>s, exigindo<br />

do sujeito <strong>de</strong> conhecimento, aquilo que Ianni (op. cit., 8) <strong>de</strong>fine como um “olhar<br />

<strong>de</strong>sterritorializado”. O “olhar <strong>de</strong>sterritorializado” sugere uma reflexão do tipo itinerante, que<br />

<strong>de</strong>sloca-se por muitos lugares e diferentes perspectivas. Nesse contexto, uma das tarefas<br />

centrais da antropologia é <strong>de</strong>scobrir as formas <strong>de</strong> reprodução do homogêneo e do<br />

heterogêneo, sob as condições <strong>de</strong> forte compressão do espaço/tempo e sob a hegemonia do<br />

capitalismo transnacionalizado (RIBEIRO, 2000). Os estudos sobre situações <strong>de</strong> fronteira e<br />

etnicida<strong>de</strong>s transnacionais têm sido particularmente férteis no repensar <strong>de</strong> tais categorias<br />

sedimentadas, justamente por que oferecem situações <strong>de</strong> transiência, impermanência,<br />

ambigüida<strong>de</strong>, “displacement” e combinações inusitadas entre “roots” e “routes”. Tais<br />

situações questionam a abordagem antropológica clássica que concebe o mundo pela<br />

<strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> as fronteiras entre grupos, culturas e socieda<strong>de</strong>s estariam bem<br />

<strong>de</strong>marcadas, fixadas no tempo e no espaço (PRATT, 1992; PÁLSSON, 1995; HASTRUP &<br />

OLWIG, 1997; CLIFFORD, 1997; RIBEIRO, 2000; HALL, 2000).<br />

Depois <strong>de</strong> pesquisas relativamente isoladas no final da década <strong>de</strong> 1960 (BARTH,<br />

1969; ROMANUCCI-ROSS & DEVOS 1995[1970]), a etnicida<strong>de</strong> tem-se vindo a transformar<br />

recentemente num terreno <strong>de</strong> estudos extremamente significativo, orientado para o<br />

questionamento e interpretação dos processos étnicos e para o exame do seu lugar na<br />

reorganização cultural do mundo (GUIBERNAU & REX, 1997; BASCH, op. cit.) 1 . Um peso<br />

gran<strong>de</strong>, em particular, tem vindo a ser conferido à etnicida<strong>de</strong> como recurso simbólico e<br />

político reivindicado por comunida<strong>de</strong>s e grupos que, <strong>de</strong> formas diferentes, tentam construir o<br />

1 Neste campo <strong>de</strong> estudos, é importante notar que a obra <strong>de</strong> Roberto Cardoso <strong>de</strong> Oliveira teve, no Brasil, um<br />

impacto paradigmático, orientando a investigação <strong>de</strong> várias gerações <strong>de</strong> antropólogos. Baseando-se na<br />

diferenciação que o autor faz entre antropologias centrais e periféricas (CARDOSO DE OLIVEIRA, 1988:143) é<br />

possível verificar como nos anos 1960, as pesquisas sobre etnicida<strong>de</strong> (limitadas sempre aos respectivos estados

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