30.10.2014 Views

O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

162<br />

Já Arjun Appadurai, reportando-se a obras clássicas como “Os Ritos <strong>de</strong> Passagem” <strong>de</strong><br />

Arnold van Gennep (1908), “O Ramo Dourado” <strong>de</strong> James Frazer (1900) e “Os Argonautas do<br />

Pacífico Oci<strong>de</strong>ntal” <strong>de</strong> Bronislaw Malinowski (1922), refere que boa parte da literatura sobre<br />

as socieda<strong>de</strong>s que os antropólogos têm estudado é substancialmente uma literatura que<br />

documenta a “socialização do espaço e do tempo”, um “registro dos inúmeros modos nos<br />

quais as socieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> pequena escala produzem espaço-temporalmente sua localida<strong>de</strong>”. No<br />

entanto, preocupado com o futuro da investigação antropológica, o autor se pergunta como a<br />

relação entre antropologia e o “lugar” nativo po<strong>de</strong> sobreviver hoje em dia, a partir do fato<br />

constatável <strong>de</strong> que uma das dimensões culturais básicas da globalização é a não coextensivida<strong>de</strong><br />

ou isoformismo entre a “locality” – como dimensão <strong>de</strong> pertencimento e o<br />

“neighborhood” – como sua forma social efetiva. Sua resposta é a <strong>de</strong> que a localida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve<br />

ser vista em sua qualida<strong>de</strong> fenomenológica, não como algo “escalar ou espacial” mas como<br />

uma “estrutura <strong>de</strong> sentimento” que produz e reproduz “nativos” por meio <strong>de</strong> inúmeras técnicas<br />

sociais (ibid.: 181). Ao invés <strong>de</strong> interpretar os ritos simplesmente como técnicas mecânicas <strong>de</strong><br />

agregação social, o autor lembra que os ritos constituem “técnicas sociais <strong>de</strong> produção <strong>de</strong><br />

nativos”. Para Appadurai, os antropólogos ten<strong>de</strong>mos a criar essa impressão dúbia <strong>de</strong><br />

reprodução mecânica das socieda<strong>de</strong>s estudadas, quando adotamos termos <strong>de</strong>finidores como<br />

“cosmológicas ou rituais” para categorizar aquilo que na verda<strong>de</strong> consiste numa miría<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

“praticas <strong>de</strong>liberadas <strong>de</strong> performance, representação e ação” dos nativos enquanto atores que<br />

socializam e localizam o próprio tempo e o espaço no processo <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> si mesmos.<br />

Segundo entendo, esta operação cria a imagem arquitetônica <strong>de</strong> uma máquina social que se<br />

reproduz mecanicamente, distraindo-nos do que o autor chama o “caráter intencional, ativo e<br />

produtivo <strong>de</strong>stas práticas”. (ibid : 180). Este genérico contraponto aqui referido, entre Mauss e

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!