O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina
O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina
O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
74<br />
João, brasileiro, artista plástico:<br />
Ter sido aprovado para este curso, foi como oficializar o que nenhuma entida<strong>de</strong> <strong>de</strong> lá do<br />
Brasil po<strong>de</strong>ria fazer: a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conhecer as nossas raízes através dos cinco sentidos.<br />
Pu<strong>de</strong> constatar que a nossa terra tem realmente uma forte ligação aos Açores. Senti-me mais<br />
preparado para aten<strong>de</strong>r a <strong>de</strong>manda dos milhares <strong>de</strong> <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes açorianos que nos procuram<br />
em <strong>Santa</strong> <strong>Catarina</strong>.<br />
espanhol:<br />
Hernan<strong>de</strong>z, uruguaio, professor aposentado <strong>de</strong> historia, misturando o português e o<br />
Na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Montevidéu, em 1993, reunimo-nos M. Techera, W. Pereira e W. Hernan<strong>de</strong>z,<br />
todos nós <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes dos casais açorianos chegados para colonizar o Sul do atual Brasil,<br />
entre 1749-1752. Resolvimos fundar o grupo <strong>de</strong> <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> açorianos no Uruguay a fim<br />
<strong>de</strong> reunir os ditos <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes, pesquisar as nossas raízes, estabelecer relacionamentos com<br />
outras instituições semelhantes seja no Uruguay, Brasil, Portugal e Ilhas dos Açores. Todos<br />
los fundadores <strong>de</strong>l grupo ya habían visitado Açores, en diversas oportunida<strong>de</strong>s y <strong>de</strong> forma<br />
privada, llevando el mensaje <strong>de</strong> açorianidad tan querido para nuestra colectividad.<br />
Brenda, luso-americana, nascida no Hawaii, professora <strong>de</strong> inglês:<br />
No Hawaii nós reconhecemos as outras pessoas pela etnicida<strong>de</strong>. Não com sinal <strong>de</strong> prejuízo,<br />
mas para i<strong>de</strong>ntificar uma pessoa com certeza. Nós dizemos: a casa do japonês, o jardim do<br />
filipino. Quando nós temos festas, é comum ter bailes <strong>de</strong> todas as raças. Sempre temos “hula”<br />
– a dança dos havaianos. Hoje ainda comemos lingüiça a moda dos Açores, massa sovada,<br />
malassadas, milho frito. A diferença é que agora, os restaurantes que servem essa comida tem<br />
os donos das outras raças. O tempo, a distancia, as guerras, a falta <strong>de</strong> educação – tudo isso<br />
contribuiu para a assimilação dos portugueses no Hawaii. Hoje, os <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes dos<br />
emigrantes lutam para guardar o que eles tem da cultura, da herança portuguesa. Nos<br />
precisamos ajuda para manter a cultura. Nós precisamos mais contato com Portugal e as ilhas<br />
dos Açores e da Ma<strong>de</strong>ira, para nós e nossos <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes.<br />
Estes relatos revelam as percepções diferenciadas dos agrupamentos i<strong>de</strong>ntitários <strong>de</strong><br />
acordo com as realida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> procedência. Não há afinida<strong>de</strong>s diretas entre eles, a não ser o fato<br />
<strong>de</strong> pertencerem a uma comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sentimentos. Agora bem, <strong>de</strong>ntre estes relatos, um <strong>de</strong>les<br />
foi extremamente significativo para os propósitos da minha pesquisa. Um <strong>de</strong>poimento sobre a<br />
trajetória <strong>de</strong> vida <strong>de</strong> um emigrante que retornou aos Açores, vai sintetizar a condição do<br />
sujeito que incorporou subjetivamente a experiência do <strong>de</strong>slocamento como referente <strong>de</strong><br />
i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>. É o que narra o relato <strong>de</strong> Miguel, um açoriano “regressante”: