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O Atlântico Açoriano - Musa - Universidade Federal de Santa Catarina

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folclóricos” dos “Kristang” são consi<strong>de</strong>rados autênticos pelos expectadores locais dos<br />

festivais competitivos, mas inteiramente kitsch para um observador iniciado. A emulação<br />

revela a manipulação das raízes portuguesas pela invocação livre <strong>de</strong> traços lingüísticos,<br />

gestuais e <strong>de</strong> traje (i<strong>de</strong>m: 25). Prestigiar significa monumentalizar Portugal, só que mais para<br />

ratificar um sentido <strong>de</strong> pertencimento ao grupo étnico “Kristang” em Malaca do que<br />

reivindicar uma <strong>de</strong>scendência real dos primeiros portugueses que <strong>de</strong>scobriram Malaca em<br />

1511 (i<strong>de</strong>m: 34). A monumentalização, (ressalte-se que o autor estuda também o seu<br />

contrário, isto é, a <strong>de</strong>s-monumentalização que seria sinônimo <strong>de</strong> <strong>de</strong>s-i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>), se dará<br />

através da língua, dos nomes e da religião, temas estudados em <strong>de</strong>talhe pelo autor. Na<br />

conclusão, O`Neill vai ressaltar as ambigüida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> todo o processo: “Visto <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Malaca,<br />

Portugal parece mono-étnico, mono-linguístico e mono-religioso: uma massa uniforme <strong>de</strong><br />

cultura homogeneizada. Em Malaca, esta imagem serve à perfeição, sendo a refração da<br />

cultura portuguesa sistematicamente submetida a manipulação” e o autor, numa discussão<br />

com os pós-mo<strong>de</strong>rnistas, e diante da emulação dos “Kristang”, se pergunta: “avançamos no<br />

sentido <strong>de</strong> analisar a sua natureza expressiva e artística, ou no das origens históricas e<br />

sociológicas da sua aparência?”(i<strong>de</strong>m: 55). Por fim, sugere que os “Kristang” exibem um<br />

processo complexo <strong>de</strong> “amnésia social”, sendo ela mesma a propiciadora do trabalho <strong>de</strong><br />

emulação, ao contrário <strong>de</strong> muitas leituras sociológicas que colocariam em primeiro plano o<br />

espaço aparentemente negativo ou vazio <strong>de</strong> sua cultura. (i<strong>de</strong>m: 58).<br />

Este caso em Malaca remete para o caso açoriano, na medida em que os Açores aqui<br />

também constituem um objeto <strong>de</strong> emulação à distancia, pelo seu caráter <strong>de</strong> uma homeland<br />

imaginada e pela mimesis das tradições do Arquipélago nas festas organizadas para este fim,<br />

como o Açor, on<strong>de</strong> apresentam-se grupos que “imitam” ou evocam danças dos Açores. O fato<br />

<strong>de</strong> haver uma consciência regionalizada da histórica presença açoriana, abre todo um campo<br />

<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificações <strong>de</strong>stinadas a enaltecer ou evocar esta consciência. O fato <strong>de</strong> haver uma

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